Ler à Sexta

Ler à Sexta – Kogi, lições espirituais de um povo indígena

Lucas Buchholz foi encontrar, num povo indígena da Colômbia, a sabedoria ancestral que reconecta o homem à Terra.

Os Kogi consideram-se os guardiões do “coração do mundo”, ou seja, da Sierra Nevada de Santa Marta, sua terra natal. Têm como missão preservar as condições essenciais e subtis da vida na terra, às quais dedicada toda a sua cultura. Chamam-se a si próprios de Irmãos Mais Velhos e a nós de Irmaos Mais Novos. Durante o máximo de tempo Possível, evitaram qualquer contacto connosco. Por isso, estou-lhes ainda mais grato por me aceitarem no pequeno círculo de pessoas com quem falam (como Gerardo Reichel-Dolmatoff, Eric Julien e Alan Ereira). Eles pretendem que este livro chegue até vós, caros leitores, na certeza de que vos fornecerá matéria para refletir e recordar. O que os Kogi nos oferecem é o carácter intacto da sua memória e da sua cultura. Trata-se dos pensamentos originais do seu povo e dos seus antepassados, os Tairona. Como exemplo ilustrativo do que isto significa: as casas cerimoniais de madeira dos Kogi encontram-se hoje nos mesmos locais onde se encontravam há mais de quatro mil anos. A sabedoria da sua cultura é tão duradoura e substancial, que regeu a vida dos Kogi durante milhares de anos sem qualquer declínio. Os povos que conseguiram viver numa civilização que é simultaneamente duradoura e pacífica em todos os sentidos durante um período tão longo, claramente, compreenderam algo sobre a vida. Se está a ler este livro é porque quer alargar os seus horizontes, ou porque está interessado na cultura dos povos indígenas, ou porque está a procura de inspiração para o seu negócio, ou se procura um desenvolvimento espiritual, a delicadeza e o humor dos Kogi vão enriquecê-lo. A única condição é estarmos preparados para nos adaptarmos à sua forma de narração e aos pensamentos e principios fundamentais subjacentes.

Bem-vindo a mais um Ler à Sexta.

Kogi, lições espirituais de um povo indígena, de Lucas Buchholz

De acordo com o entendimento Kogi, a ordem de uma sociedade começa com os pensamentos de cada indivíduo, que são a base essencial de toda a vida social. Por conseguinte, a ordem interior, a estruturação dos seus próprios sentimentos e pensamentos, é uma das atividades mais importantes que os Kogi desenvolvem no esuama. Tratam especifcamente de questões muito particulares que correspondem sempre a determinadas histórias tradicionais. O objetivo é estabelecer uma ligação com a origem do mundo e da própria família. Neste processo, o esuama da origem ancestral desempenha um papel essencial, pois permite aceder à origem do seu próprio eu. A consciência territorial e esta forma de organizar a vida comunitária oferece acesso a um enraizamento nos seus próprios território e sabedoria. Com as nossas mentes ocidentais, talvez nunca consigamos compreender plenamente o significado mais profundo dos esuamas e dos lugares sagrados, porque já não existe nada de comparável na nossa cultura. Alguns de nós talvez se lembrem de quando os Anciãos se reuniam debaixo da velha tília no centro da aldeia, antes de esta ser abatida para dar lugar a um cruzamento com semáforos, ou da conversa semanal na praça do mercado. No mundo atual, os monumentos e as igrejas situam-se em pontos de vista excecionais ou, por exemplo, em antigos lugares celtas. O princípio do esuama é talvez ainda o mais parecido com os locais dos antigos povos germânicos, onde os interesses da comunidade eram organizados e mantidos em ordem. Num jogo de palavras, Eric Julien intitulou uma das suas conferências “Du paysage au pays sage” (“Da paisagem ao país sábio”) e, ao fazê-lo, sublinhou a grande sabedoria intrínseca da natureza. Onde termina a sociedade e começa a natureza? Será sequer possível definir uma separação entre elas? Não estarão elas intrinsecamente conectadas? A abordagem Kogi para resolução de conflitos, manutenção de cuidados de saúde preventivos e organização dos interesses humanos em harmonia com os de todos os outros seres vivos, é tudo menos pri-mitiva. A cultura Kogi existe há mais de quatro mil anos sem qualquer tradição escrita. A existência de um sistema complexo permitiu aos Kogi adaptarem-se constantemente às novas circunstâncias, preservando ao mesmo tempo uma tradição significativa.

O livro vai-nos contando as várias histórias do povo e do seu ciclo de vida, organização e forma de encarar a natureza como parte integrante do viver.

Enquanto os lugares sagrados representam as origens puras das diversas formas de vida na natureza, os esuamas são os lugares dos antepassados, ou seja, os lugares da origem humana representados na natureza. As origens humanas são o início da vida e da ordem social, razão pela qual, os esuamas são também os lugares da organização humana. Os principais fatores desta organização são a atribuição das responsabilidades territoriais e as linhagens ancestrais, cada uma carregando um sewá particular para dirigir uma parte específica do território. O seu trabalho está, como tudo o resto, integrado na ordem dinâmica inerente à natureza.

O que este livro me trouxe

A Voz Ancestral do Pensamento Vivo
Encontramo-nos num momento em que temos acesso a tanto e tudo, corremos atrás de necessidades básicas e desejos que estão constantemente a mudar em insatisfação. Como é dito neste maravilhoso livro de Lucas Buchholz, cultivamos, criamos e colhemos pensamentos artificiais. No momento em que escrevo o prefácio deste maravilhoso livro de ensinamentos espirituais dos Kogi, encontro-me em Bali, que pelas palavras de Neru era a “ilha do amanhecer”. Um local idílico em fotografias, mas que tem vindo a trazer imensas dificuldades ao seu povo, como três horas para percorrer quarenta quilómetros, ou a imensidão de plástico, ou ainda os campos de arroz necessários à sua sobrevivência que foram substituídos por “vilas” e hotéis. Estamos neste momento em que por um lado conseguimos tanto, mas por outro precisamos encontrar novamente a ligação ao “pensamento unitário”, à escuta do que a natureza nos diz, ao encontro da sua força e harmonia. O que será melhor para o nosso futuro enquanto humani-dade? Continuar a atropelar a terra que nos acolhe, ou escutá-la e viver de acordo com a sua harmonia? Este povo ancestral, os Kogi, partilham uma sabedoria que encontramos em todas as filosofias e conhecimentos que abordam o sentido de responsabilidade pela vida e a necessidade de restabelecimento do equilíbrio entre todas as coisas. Precisamos (re)aprender a venerar a terra, a cuidar como guardiões que somos de uma ancestralidade que desejou sobreviver. Talvez precisemos também de nos escutar mais a nós mesmos, compreendendo melhor as razões dos nossos medos, desejos e valores. Se estivermos diante de uma cascata, de uma montanha, floresta ou praia, que valor tem cada um dos nossos pensamentos? Como ele contribui para o equilíbrio do sistema vivo onde estamos? Mukundananda dizia que nós, como parte do absoluto, somos sempre atraídos a ele, como parte de uma peça de puzzle que anseia por regressar à totalidade da qual faz parte. Que o nosso anseio possa ser realizado através de boas aprendizagens e conexão com o pensamento unitário, pois no fim, todos somos um. Que este livro te possa trazer momentos de profunda ligação com o pensamento unitário da vida e força para encontrares o teu lugar e a tua importância no equilíbrio desta vida.
Bali, 14 de Maio, 2024

Podes ler mais sobre o autor e a obra no site da Bambual Editora, em Portugal

Kogi, Lições espirituais de um povo indígena.

Conhece Lucas Buccholz

Lucas Buchholz desde cedo começou a questionar-se e a procurar alternativas ao paradigma vigente.
Nasceu em 1989, em Frankfurt am Main, na Alemanha e durante os seus estudos em economia, política e estudos sobre paz e conflitos, explorou filosofias antigas, conceitos orientados para o futuro e abordagens não convencionais.
Depois de trabalhar para grandes instituições internacionais em Moçambique, na Jordânia e no Paquistão, procurou ter um impacto mais direto na mudança.
Autor de dois livros e orador, a sua missão é inspirar indivíduos, organizações e empresas a moldarem-se para criar um mundo regenerativo, demonstrar como o mundo moderno pode aprender e agir de acordo com as culturas e as tradições de sabedoria indígena.
Estes povos indígenas viveram, desde há milénios e até aos dias de hoje, de forma sustentável, abraçando todas as formas de vida, conservando uma inestimável sabedoria intemporal.
Lucas trabalhou durante quase uma década com o povo indígena Kogi da Colômbia, do qual recebeu um convite extraordinário – visitá-los nas colinas da Sierra Nevada de Santa Marta.
Ao passar vários meses no mundo isolado dos Kogis, estes pediram-lhe para levar a sua mensagem ao mundo e escrever um livro sobre eles -os Irmãos Mais Velhos-, para nós -os Irmãos Mais Novos.
Pediram-lhe ainda que criasse uma academia de sabedoria indígena e que os ajudasse a recuperar as suas terras ancestrais.
O primeiro pedido já foi concretizado com a criação da Timeless Wisdom Academy e da organização sem fins lucrativos Sacred Future, das quais é fundador e que têm como objetivo partilhar profundas perceções e reflexões, trabalhando profundamente com o conhecimento indígena.

Lucas Buchholz. Fonte: Site do autor.

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Designer, Mestre, Terapeuta de Reiki, Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e fundador da Ser - Cooperativa de Solidariedade Social. Autor dos livros «Reiki Guia para uma Vida Feliz», «O Grande Livro do Reiki», «Reiki Usui», entre muitos outros. Fundador do Instituto Educação pela Paz. Acima de tudo quero partilhar contigo o porquê de Reiki ser a «Arte Secreta de Convidar a Felicidade».

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João Magalhães Reiki
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