Ler à Sexta

Ler à Sexta – A Tua Melhor Companhia És Tu, de Borja Vilaseca

LIVRA-TE DA CULPA – A primeira lição a interiorizar para te libertares psicologicamente consiste em «deixar de culpar os teus pais» pelas inseguranças, carências e frustrações que ainda hoje sentes como adulto. Parte de ti – a tal criança assustada – faz-te crer que a causa do mal-estar e sofrimento que sentes atualmente está relacionada com aquilo que os teus progenitores foram e te fizeram durante a tua infância. E possível que os teus pais te tenham espetado um punhal quando ainda eras uma criança inocente, vulnerável e indefesa. Mas agora que és adulto, depende apenas de ti retirar esse punhal do peito e parar de pôr sal na ferida para que possa ser por fim tratada e cicatrizar. Por muito fastidioso que isto possa ser para o ego, mais cedo ou mais tarde terás de prescindir desse vitimismo e virar a página. Para amadurecer há que transformar a dor em algo útil, bonito e proveitoso. A segunda lição consiste em «deixar de tentar mudar os teus Pais». Repara como ficas frustrado sempre que eles não cumprem as tuas expectativas. Não lhes exijas o impossível! Toma consciência da forma como os julgas e criticas quando não se comportam como achas que se deveriam comportar. Compromete-te a aceitá-los tal como são, com todos os seus defeitos, limitações e vulgaridades. A tua emancipação emocional passa por renunciar à relação.

Bem-vindo a mais um Ler à Sexta, desta vez com A Tua Melhor Companhia És Tu, de Borja Vilaseca

A tua melhor companhia és tu, de Borja Vilaseca

Este livro é uma maravilhosa viagem através do super-poder da solitude, do saber estar connosco, do sentir que estar apenas connosco não é errado, não é mau, muito pelo contrário. Para isso, Borja Vilaseca começa por explicar a solidão.

O QUE A SOLIDÃO ESCONDE
De toda a gama de sentimentos e estados de espírito que podes vir a experimentar ao longo da vida, a solidão será dos mais difíceis de suportar. Isto deve-se ao facto de esta emoção combinar uma série de sensações profundamente intensas e dolorosas como o abandono, a angústia, a ansiedade, o desamparo, o desespero, a melancolia, o medo, a nostalgia, a rejeição, a tristeza e o vazio. A solidão mata e corrói por dentro, ao ponto de te deixar sem saber o que fazer dela. Poucos são os que se atrevem a sentir e a encarar a solidão de frente de forma voluntária. Outros preferem fugir como velhacos à primeira oportunidade… Sabes do que estou a falar, não é verdade? Numa perspetiva psicológica, o que se esconde por detrás da solidão? O que leva a que certas pessoas sejam mais suscetíveis a sofrer com a solidão do que outras? Podemos apontar duas causas principais. A primeira é a falta de autoestima que surge quando alguém se convence de que «o amor vem de fora», crente de que a fonte do seu bem-estar provém estritamente da relação com terceiros. É desta forma que, pouco a pouco, uma pessoa se vai esquecendo de si mesma e descurando as suas necessidades emocionais. Quanto menos te conheceres, valorizares e amares a ti próprio, maior será a probabilidade de te sentires sozinho quando estiveres a sós. Como a solidão é uma sensação tão incómoda e perturbadora, optas por te distanciares de ti mesmo, envolvendo-te tanto quanto possível na vida de quem te rodeia para evitares fazer aquilo que mais temes: atender ao teu mundo interior. Este comportamento leva a que entres inconscientemente num círculo vicioso: quanto mais te afastas de ti mesmo, mais sozinho te sentes. A falta de amor-próprio faz com que queiras que os outros gostem de ti. Faz com que precises que precisem de si, outorgando assim todo o poder aos membros do teu círculo familiar e social. Ao não saberes fazer companhia a ti mesmo, ficas a depender da companhia alheia para não teres de experimentar a dor da soli-dão. A principal consequência desta forma errada de pensar e de agir é que acabarás irremediavelmente por perder as pessoas que te rodeiam, fomentando laços marcados pelo vício do apego e pela dependência emocional.

Ao longo desta viagem terapêutica da solidão, naturamente, vamos fazer uma paragem pela família e compreender a disfuncionalidade que existe tão camuflada e que tanto nos obriga a ser o que não somos e a cumprir que nunca quereríamos ter. Assim como de conceitos errados como o do individualismo, ou as rotinas e padrões sociais.

Famílias disfuncionais
A sociedade é sempre um reflexo fiel da forma como pensa e se comporta a maioria. O que vemos a acontecer cá fora é uma projeção do que acontece dentro de nós. As nossas crenças, pensamentos, emoções, decisões e ações são o que vai dando forma à realidade que percecionamos e ao sistema em que vivemos. E uma vez que continuamos enfeitiçados pela ilusão da separatividade, construímos uma sociedade à imagem e semelhança do nosso ego. Ou seja, egocêntrica, neurótica e infeliz. O teu grande problema existencial está nessa tendência de viver a vida de fora para dentro. És constantemente submetido a uma pressão social tão impercetível quanto asfixiante, uma vítima inconsciente das convenções do teu tempo. Tanto assim que a tua vida se tornou «o dia da marmota»? Repetes vezes sem conta os mesmíssimos costumes, rotinas, tradições e festividades que te foram incutidos desde que nasceste pela geração que te precedeu. E uma vez que quase ninguém questiona a realidade normativa imposta pela sociedade, esta nora social perpetua-se ano após ano, ad infinitum… Suponho que por esta altura já te tenhas apercebido de que existe uma propaganda feroz que te leva a fazer aquilo que se supõe que deves fazer para merecer a aprovação dos outros. E que faz com que te tornes a pessoa que se supõe que tens de ser para merecer a aceitação da tua família. É desta forma que, inconscientemente, te vais traindo a ti mesmo, diminuindo o teu amor-próprio e pondo de parte a tua verdadeira essência. A sociedade é, em si, uma conspiração contra o indivíduo e a sua singularidade. E este complô não é urdido pelas altas esferas e elites que nos governam na sombra. Longe disso. Os seus perpetradores são muitas vezes os pais e as mães que parecem dispostos a fazer tudo pelos seus filhos menos deixar que eles sejam realmente quem são.

Muitas vezes esta família disfuncional esconde maus-tratos psicológicos, tão ocultos do instagram e de outras tantas redes sociais, onde tudo parece tão positivo, assim como a bela aparência num café, numa manhã perfeita em família, até que a criança começa a chorar e aí, as máscaras caem, porque no fundo, os adultos ainda não são adultos.

MAUS-TRATOS PSICOLÓGICOS
Não te deixes enganar pela imagem de família perteita que muitas famílias tentam projetar quando comparecem em eventos sociais de todos os tipos. A realidade que essa máscara social esconde é muito menos encantadora. A excessiva identificação com o ego faz com que a sociedade esteja profundamente desconcertada. Prova disso é que grande parte das famílias são emocionalmente disfuncionais e incapazes de cumprir a sua função psicológica: proporcionar aos meninos e às meninas um contexto emocional estável, ótimo e seguro que lhes permita desenvolver a autoestima e crescer de forma saudável. O próprio conceito de «família feliz», curiosamente, é tão tangível como um unicórnio. Em muitos casos as famílias vivem na tirania de um conflito estrutural e endémico permanente que se traduz em discussões, tensões, brigas, zangas, gritos, dramas, insultos, abusos, agressões… E, consequentemente, num clima de violência psicológica permanente e nociva que deixa sequelas psíquicas nos filhos que os acompanharão para o resto das suas vidas. Contudo, em muitas famílias existe uma espécie de acordo tácito – um verdadeiro tabu – que Leva a que nenhum membro possa falar mal do seu clã na presença de terceiros. Fazê-lo é visto como a maior das traições. E pode trazer consigo a rejeição e o ostracismo. A questão é que estas perversões são transmitidas de geração em geração ao longo da nossa árvore genealógica. De forma inconsciente, tendemos a tratar psicologicamente os nossos filhos de um modo bastante parecido com o modo como fomos tratados pelos nossos pais. Por sua vez, as atitudes e os comportamentos dos nossos pais tendem a ser, também eles, um reflexo da forma como foram tratados pelos nossos avós. Esta dinâmica perpetua-se e é normalizada ao ponto de todo o tipo de comportamentos nocivos parecer perteitamente natural ou rotineiro, tanto para quem os pratica como para quem deles é alvo. A repetição destas dinâmicas familiares tóxicas é habitualmente designada por «trauma transgeracional». Isto significa que, além de teres herdado a cor dos olhos dos teus antepassados, também herdaste as feridas que estes não foram capazes de curar ou resolver. E dado que o mais certo é que nem os teus avós nem os teus pais tenham feito terapia, o mais provável é que a ti – se quiseres quebrar este ciclo – não te reste outra alternativa.

E Borja Vilaseca apresenta-nos também recursos para trabalharmos a solidão, a desintoxicação do que ilusoriamente nos enche, assim como da criança interior…

COMO CURAR A TUA CRIANÇA INTERIOR
Curar a tua criança interior é uma aprendizagem intransferível. Ninguém o poderá fazer por ti. E um processo que se desenvolve numa série de fases.” A primeira consiste em «ser consciente do que te aconteceu quando eras criança» da forma mais objetiva e neutra Possível. Para muitos basta pensar nisso para ficarem cheios de preguiça e pavor. Para quê revisitar a infância quando foi fonte de tanta dor e sofrimento? Que sentido faz desenterrar os fantasmas do passado? Por muito fastidioso que possa parecer a princípio, a tua cura emocional passa por revisitar os acontecimentos que mais te marcaram na infância e na adolescência. Deves, contudo, cingir-te a factos, ignorando todas as histórias com que certamente os terás adornado na tua cabeça. Sobretudo porque essas histórias foram – inevitavelmente – distorcidas pelo teu egocentrismo e porque tendem, como tal, a ser coloridas com um certo drama e vitimização. É igualmente recomendável que leves a cabo um trabalho de investigação exaustivo para ficares a conhecer de forma aprofun-dada os traumas transgeracionais que atravessam a tua árvore genea-lógica. Quem foram os teus avós? Que tipo de infância tiveram os teus pais? Que circunstâncias adversas se viram obrigados a enfren-tar? Saber a resposta a este tipo de perguntas é fundamental para poderes compreender de onde vens e para ficares a conhecer a carga genética que te deu forma, e – no fundo – para perceberes por que motivo és como és…

Um dos pontos notáveis deste livro é também a quantidade de chamadas de atenção para indicadores de mau estar, mas também de bem-estar e de como a tristeza pode ter um papel interessante e fecundo neles.

A Função da Tristeza
Um dos indicadores que demonstra que estas a passar cada vez mais tempo de qualidade a sós contigo mesmo é o surgimento da tristeza e da melancolia. Isso é algo que acontece de forma mais pronunciada durante os primeiros passos deste caminho rumo a ti. De repente, parece que te falta algo (ou alguém) para te sentires completo. Talvez sintas a falta de companhia de pessoas em geral ou da presença de alguém em particular. E, devido à forma como foste condicionado, convences-te de que é essa ausência que te deixa triste. Não é caso para menos. Afinal, passaste toda uma vida a projetar esse desejo de relação para fora, sobre o outro. Daí que a tua primeira reação seja telefonar a alguém ou escrever uma mensagem no WhatsApp para sentires que não estás sozinho. Insisto que não o faças. Sempre que estiveres em contacto com essa tristeza põe o telemóvel em «modo avião» e abstém-te de comer açúcar refinado – em forma de chocolate, pastelaria industrial, guloseimas ou gelado – para paliar a sensação de abandono e falta de amor… Não percas a maravilhosa oportunidade de sanação que esta emoção te proporciona. A tua desintoxicação social passa por superar qualquer tipo de paliativo antissolidão. Não te esqueças que o ego irá continuar a empregar todo o tipo de ilusões e estratagemas para tentar que tenhas uma recaída, mantendo a tua dependência da nicotina social. Não é por acaso que a sobrevivência deste parasita psíquico depende do facto de continuares a viver alheado de ti mesmo e muito distante da tua verdadeira essência. Talvez um amigo tenha posto fim à vossa amizade. Talvez o teu companheiro ou a tua companheira te tenha deixado. Ou talvez ate tenha falecido um dos teus familiares. O ego fará sempre com que penses que a tua pena e a tua infelicidade se devem à ausência dessa pessoa na tua vida, mas isso simplesmente não é verdade. Grande parte da dor que sentes não tem nada que ver com a pessoa que partiu. Se olhares para dentro com honestidade descobrirás que a pessoa de quem realmente sentes a falta é de ti mesmo. A tua tristeza não tem tanto que ver com a relação que perdeste, mas com o facto de te teres perdido nessa relação. Perante qualquer tipo de perda, o teu nível de sofrimento é diretamente proporcional ao grau de apego e dependência emocional que mantinhas com a pessoa em causa. Praticamente não choras pelo outro. Choras por ti mesmo.

O que este livro me trouxe

Foi um interessante caminhar ao longo de passos que cheguei a viver, o encontrar o gosto na solidão ou no estar só, o compreender como os outros me preencheriam de forma positiva ou até não tão positiva, mas também muito mais. É um livro que vai direto ao assunto, que ajuda a refletir e que traz as perguntas mais essenciais que devemos fazer.

Adorei também a parte relacionada com os pais e com a criança interior, onde há um apelo à responsabilização, mas também ao amor. É um livro que nos ajuda a fazer pazes com o prazer de estar connosco, de saber viver uma vida feliz e em paz connosco… e, na verdade, só assim o conseguiremos fazer com os outros.

Acredito que, de alguma forma, este livro poderá ajudar-te a fazeres o teu caminho para uma vida mais pacífica e feliz.

Podes ler um excerto do livro aqui…
Lê mais sobre o livro e o autor no site da Pergaminho Editora

Conhece Borja Vilaseca

Borja Vilaseca é escritor, divulgador, conferencista, professor, empreendedor e criador de projetos pedagógicos destinados a promover uma mudança de paradigma social. Fundou a Kuestiona, uma comunidade educativa para pensadores, exploradores espirituais e inconformistas, que promove programas online para ajudar as pessoas a tornarem-se a mudança que querem ver no mundo; fundou também La Akademia, um movimento cidadão que promove gratuitamente educação emocional e de empreendedorismo para jovens; assim como o projeto Terra, uma proposta de escola consciente e de transformação do sistema educativo. Todos estes projetos têm presença internacional, tal como os diversos cursos online que organiza. É também autor de vários bestsellers de desenvolvimento pessoal que contam já com mais de 500 000 exemplares vendidos e são publicados em mais de 20 países. borjavilaseca.com

Borja Vilaseca. Fonte: Youtube


Designer, Mestre, Terapeuta de Reiki, Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e fundador da Ser - Cooperativa de Solidariedade Social. Autor dos livros «Reiki Guia para uma Vida Feliz», «O Grande Livro do Reiki», «Reiki Usui», entre muitos outros. Fundador do Instituto Educação pela Paz. Acima de tudo quero partilhar contigo o porquê de Reiki ser a «Arte Secreta de Convidar a Felicidade».

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João Magalhães Reiki
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