Ler à Sexta - Geração Dopamina
Ler à Sexta

Ler à Sexta – Geração Dopamina, de Anna Lembke

Nos últimos tempos temos vindo a ser cada vez mais sobrecarregados com estímulos das mais diversas formas. E num mundo que nos traz tanto stress, o vício de procura pelo prazer que atenue a nossa dor, leva-nos a uma espiral cada vez mais descendente na nossa qualidade de vida. Como ficamos tão viciados na estimulação gratificante?

À volta de histórias de vários utentes de Anna Lembke, vítimas de adições, mas que encontraram uma saída. Este livro é sobre prazer e também sobre dor, sobre o equilíbrio que precisamos ter entre os dois mundos.

Ele explica a neurociência da recompensa e ajuda-nos a encontrar um equilíbrio entre o prazer e a dor, para uma vida mais equilibrada. Então, como podemos compreender e melhorar a nossa compulsão pelo consumo?

Bem vindo a mais um Ler à Sexta…

Geração Dopamina, de Anna Lembke

Geração Dopamina está dividido em quatro partes – A Demanda do Prazer, Autorrestrição, A Demanda da Dor e Conclusão. O livro explora as descobertas científicas que vão sendo realizadas sobre o tema e traz-nos histórias reais que nos ajudam a compreender porque alguém fica vítima da dependência, mas dando-nos também a esperança do alcançar da harmonia entre o prazer e a dor.

Ao longo do livro, vários temas são abordados, mas realço aqui a vergonha, que é algo que tem vindo a afetar tantas pessoas, das mais diferentes idades.

Vergonha Pró-Social

Quando falamos da compulsão para o consumo ex-cessivo, a vergonha é um conceito inerentemente problemático. Pode ser o veículo para perpetuarmos o comportamento, bem como o ímpeto para o interromper-mos. Ora, como podemos conciliar este paradoxo?
Em primeiro lugar, falemos do que é a vergonha.
A literatura atual sobre psicologia identifica a vergonha como uma emoção distinta da culpa. O raciocínio é o seguinte: a vergonha faz-nos sentir mal enquanto pessoas; já a culpa, faz-nos sentir mal pelos nossos atos, mantendo uma noção positiva do eu. A vergonha é uma emoção mal-adaptativa. A culpa é uma emoção adaptativa.
O meu problema com a dicotomia vergonha/culpa é que, a nível experiencial, a vergonha e a culpa são idênticas.
Intelectualmente, posso evitar a autoaversão por considerar que «sou uma pessoa boa que fez uma coisa má», mas naquele momento em que sinto vergonha (uma emoção com um impacto imediato tremendo), o sentimento é o mesmo: arrependimento misturado com medo do castigo e o pavor do abandono. O arrependimento é por ter sido descoberta e pode ou não incluir arrependimento pelo comportamento em si. O pavor do abandono, já em si uma forma de castigo, é particularmente potente. E o terror de ser rejeitada, banida, de já não fazer parte do grupo.
No entanto, a dicotomia vergonha/culpa está associada a um aspeto real. Acredito que a diferença não está em como sentimos a emoção, mas no modo como os outros reagem à nossa transgressão.
Se os outros reagirem rejeitando-nos, censurando-nos ou banindo-nos, entramos num ciclo a que chamo vergonha destrutiva. A vergonha destrutiva acentua a experiência emocional da vergonha e leva-nos a perpetuar o comportamento que conduziu inicialmente à vergonha. Se, todavia, os outros reagirem aproximando-se de nós e facultando orientações claras para a nossa redenção/recuperação, entramos no ciclo da vergonha pró-social. A vergonha pró-social mitiga a experiência emocional da vergonha e ajuda-nos a interromper ou reduzir o comportamento vergonhoso.
Com esta distinção em mente, comecemos por falar de quando a vergonha tem um mau desfecho (ou seja, vergonha destrutiva) como prelúdio da discussão de quando a vergonha tem um bom desfecho (ou seja, vergonha pró-social).

Vergonha destrutiva

Um dos meus colegas psiquiatras disse-me uma vez: «Se não gostarmos dos nossos pacientes, não os podemos ajudar.»
Temos tendência a ver a vergonha como algo negativo, sobretudo numa época em que o shaming (envergonhamento) — fat shaming, slut shaming, body shaming, etc. — se tornou um termo tão forte e, com razão, associado ao bullying.
No nosso mundo cada vez mais digital, envergonhar os outros nas redes sociais e a «cultura de cancelamento» associada tornaram-se uma nova forma de proscrição, uma versão moderna dos aspetos mais destrutivos da vergonha.
Mesmo quando mais ninguém nos está a apontar o dedo, todos estamos dispostos a fazê-lo a nós mesmos.
Ao apresentar tantos motivos de inveja, as redes sociais aumentam a nossa tendência para nos envergonharmos.
Não nos comparamos apenas com os vizinhos, colegas de escola e de trabalho, mas também com o mundo inteiro, tornando muito fácil convencermo-nos de que poderíamos ter feito mais, ou conquistado mais, ou simplesmente vivido de forma diferente.
Para nos considerarmos «bem-sucedidos», sentimos que temos de alcançar os píncaros míticos de Steve Jobs e Mark Zuckerberg ou, como a empresa Theranos de Elizabeth Holmes (um Ícaro dos tempos modernos), fracassar aparatosamente.
Contudo, a vivência dos meus pacientes sugere que a vergonha pró-social pode ter efeitos positivos, saudáveis, ao atenuar algumas das arestas do narcisismo, aproximando-nos das redes de relacionamentos que nos apoiam e refreando as nossas tendências adictivas.

O que este livro me trouxe

Geração Dopamina é um livro técnico, sem dúvida, mas com um carácter de aproximação da neurociência ao nosso entendimento comum do que é a adição e dos nossos sistemas e estímulos que nos levam ao prazer e à dor.

É por isso um livro que requer atenção para ler e encontrar sentido nos vários casos que são apresentados sobre exemplos de adições. Além do relato de situações reais, o que acho sempre muito positivo para encontrarmos paralelos connosco, tem também atitudes e resoluções que podemos tomar para uma vida mais harmoniosa, sabendo lidar melhor com os estímulos que surgem.

Lê um excerto do livro aqui…
Lê mais sobre a autora e o livro no site da Nascente Editora

Geração Dopamina de Anna Lembke

Conhece Anna Lembke

Dra. Anna Lembke é professora de Psiquiatria e Medicina da Adicção na Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, bem como diretora da Clínica de Diagnóstico Dual de Medicina da Adição de Stanford.
Recebeu vários prémios pela investigação notável no domínio da saúde mental, pela excelência no ensino e pela inovação clínica no tratamento da adição.
Enquanto médica investigadora, publicou mais de cem artigos revistos por pares, capítulos de livros e comentários em publicações de prestígio como o New England Journal of Medicine e o Journal of the American Medical Association.
É também autora de Drug Dealer, MD (2016), um livro sobre a epidemia de prescrição de medicamentos que geram dependência.
Foi uma das participantes do popular documentário da Netflix, O Dilema das Redes Sociais (2020), em que denuncia os malefícios da elevada exposição aos pequenos ecrãs.

Anna Lembke. Fonte: Site da autora

Designer, Mestre, Terapeuta de Reiki, Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e fundador da Ser - Cooperativa de Solidariedade Social. Autor dos livros «Reiki Guia para uma Vida Feliz», «O Grande Livro do Reiki», «Reiki Usui», entre muitos outros. Fundador da revista "Budismo, uma resposta ao sofrimento". Acima de tudo quero partilhar contigo o porquê de Reiki ser a «Arte Secreta de Convidar a Felicidade».

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