Ler à Sexta – Esperança Ativa de Joana Macy e Chris Johnstone
“Cada um de nós tem algo de significativo para oferecer, uma contribuição a fazer. Ao enfrentarmos o desafio de desempenhar o nosso melhor papel, descobrimos algo precioso que enriquece as nossas vidas e contribui para a cura do nosso mundo. Numa ostra, em resposta a um trauma, cresce uma pérola. Nós crescemos e oferecemos a nossa dádiva de Esperança Ativa”. Bem-vindo a mais um Ler à Sexta.
Esperança Ativa de Joana Macy e Chris Johnstone
Há uns anos atrás tive o privilégio de acompanhar o surgimento da Bambual Portugal, uma editora que se dedica à regeneração e à partilha de modelos inovadores de transformação, através da literatura. Surgiu “Esperança Ativa” de Joana Macy e Chris Johnstone, uma fonte de inspiração que nos traz a reflexão dos nossos tempos contemporâneos sobre o caos e negligência não só do planeta, mas também do nosso próprio. Dizem os autores:
No coração deste livro está um modelo colaborativo de poder, baseado na avaliação de que quando trabalhamos juntos, obtemos melhores resultados do que trabalhando individualmente. A história da nossa coautoria é um bom exemplo disso. A ideia germinou a partir duma conversa acerca das lições que aprendemos a partir da nossa experiência com O Trabalho Que Reconecta. O que nos surpreendeu e empolgou foi a frequência com que, nas muitas horas que se seguiram, surgiram insights que nenhum de nós tinha tido antes. Embora a estrutura principal, os conceitos e as práticas de O Trabalho Que Reconecta sejam bem testados, fomos capazes de enriquecê-los, aperfeiçoá-los e fazer contribuições de forma a reunir uma grande quantidade de material inédito.
Há um dito antigo que diz que dois olhos são melhores que um, já que é de duas perspetivas diferentes que surge a profundidade da visão tridimensional.
Como coautores, temos origens diferentes, vivemos em continentes diferentes e bebemos de fontes diferentes, o que contribuiu para toda a rica sinergia que experimentamos e que é expressa através do nosso texto.
Assim começa este livro que nos leva a uma viagem com três grandes partes. “A grande viragem”, “Vendo com novos olhos” e “seguindo em frente”.
Este é um livro que poderá ajudar muito, todos aqueles que de alguma forma sentem uma dor pelo mundo estar como está.
A Dor pelo Mundo como um Apelo à Aventura
Há um momento, em muitas histórias de aventura, em que os personagens principais veem a verdadeira natureza da crise que enfrentam e ela é bem pior do que o que tinham imaginado. Não é apenas a sua própria vida que está em jogo, mas também a da comunidade à qual pertencem, um valor que prezam, uma causa maior que eles mesmos. Com acesso limitado a ferramentas e a recursos disponíveis, pode parecer que não têm muitas hipóteses. Para ter alguma esperança, precisam de sair para um novo território em busca de aliados, compreensões e ferramentas que os ajudem.
Experimentaremos momentos em que a ficha vai cair, quanto ao facto de o nosso mundo estar em grande perigo. Ao enfrentar um desafio muito além daquilo que normalmente pensamos conseguir lidar, precisamos de conseguir ir para além do familiar e aprender a arte de ver com novos olhos. A próxima secção deste livro apresenta quatro empoderadoras mudanças de perceção.
Gostamos de pensar nelas como as quatro descobertas: um sentido mais amplo do ser, um diferente tipo de poder, uma experiência mais rica de comunidade e uma visão mais ampla do tempo.
Algo de extraordinário que este livro traz é não só o despertar da mente, mas também do diálogo com o coração e juntos promoverem a sabedoria do todo, para o todo.
O pensamento acontece através das células do cérebro e não dentro delas, e a inteligência é uma propriedade emergente de células que trabalham juntas, como um todo maior. Vermo-nos como semelhantes a neurónios, abre-nos uma forma totalmente nova de pensar sobre a inteligência. Co-inteligência, o conceito que mencionamos no capítulo 6, é definida pelo Co-Inteligence Institute como “aceder à sabedoria do todo em prol do todo”. Se pensássemos em nós mesmos como parte da equipa da vida na Terra, poderíamos aceder à sabedoria do todo para o benefício de todos?
A co-inteligência surge quando partilhamos ideias e visões que consideramos inspiradoras, dando espaço para também escutar aquilo que move as outras pessoas. É assim que as visões nos captam e se espalham culturalmente a uma velocidade surpreendente.
EXPERIMENTE:
Partilha da Inspiração
A seguinte frase aberta, pode ser usada numa ronda em grupo, para provocar uma conversa em pequenos grupos de amigos, como um ponto de partida para um diário pessoal, ou como algo que pode ser incluído em cartas para amigos: “O que me inspira neste momento é…”
Claro que algo que sempre me chama a atenção são aqueles valores base que nos podem fazer crescer mais e mais a cada dia, como por exemplo a gratidão:
Partir da Gratidão ajuda a construir um contexto de confiança e dinamismo psicológico que nos apoia para enfrentar realidades difíceis na segunda fase. Dedicar tempo e atenção a honrar a nossa dor pelo mundo, garante que haja espaço para ouvir a nossa tristeza, o pesar, a indignação e quaisquer outros sentimentos que se revelem em resposta ao que está a acontecer no mundo. Admitir a profundidade da nossa angústia, até para nós mesmos, leva-nos rumo a um território culturalmente proibido. Desde muito pequenos, foi-nos dito para nos controlarmos, para nos alegrarmos ou para nos calarmos. Ao honrar a nossa dor pelo mundo, quebramos os tabus que silenciam a nossa angústia.
Quando a sirene de ativação do alarme interno deixa de estar sufocada ou des-ligada, algo é ativado em nós. E a nossa resposta pela sobrevivência.
O termo honrar implica um acolhimento respeitoso, onde reconhecemos o valor de algo. A nossa dor pelo mundo não nos alerta apenas para o perigo, mas também revela a profunda dimensão do cuidado. E esse cuidado deriva da nossa interconexão com toda a vida. Não precisamos temê-lo.
Na terceira fase vamos mais longe, aprofundando a mudança percetual que reconhece a nossa dor pelo mundo, como uma expressão saudável da nossa pertença à vida. Ver com novos olhos, revela a rede mais ampla de recursos disponíveis através do enraizamento num eu ecológico mais profundo. Esta terceira fase recorre a insights da ciência holística e da sabedoria espiritual antiga, bem como das nossas imaginações criativas. Abre em nós uma nova visão daquilo que é possível, e uma nova compreensão do nosso poder, para fazer a diferença.
Para vivenciar os benefícios destas perspetivas fortalecedoras, queremos aplicá-las à tarefa de abordar os desafios que encaramos. A etapa final, Seguindo em Frente, envolve elucidar a nossa visão de como podemos agir para a cura do nosso mundo, identificando passos práticos que a fazem progredir
O que este livro me trouxe
Em primeiro lugar uma profunda gratidão pelo Gabriel Simões, um querido amigo, ter trazido este livro até todos nós. É um livro que aborda temas muito importantes não só para cada um de nós como indivíduo para o seu crescimento, mas também as pontes e os conceitos que nos ajudam a viver em conjunto, a cooperar e trabalhar em prol deste mundo que nos acolhe. É um livro que me ajuda a manter a esperança viva e ativa, sabendo que baixar os braços não é solução e que até ao fim, temos um caminho para manter, contribuindo positivamente para sanar o caos e as adversidades que nos rodeiam e por vezes estão no nosso interior.
Lê mais sobre os autores e o livro na Bambual Editora Portugal
Conhece Joana Macy e Chris Johnstone
Joana Macy é doutorada em Ecofilosofia, estudiosa do Budismo, da Teoria Geral dos Sistemas, da Ecologia Profunda e autora de vários livros.
Uma voz mundialmente respeitada nos movimentos pela paz, justiça e ecologia, junta à sua formação académica, mais de cinco décadas de ativismo. Idealizadora de O Trabalho Que Reconecta, criou uma metodologia teórica e prática para a mudança pessoal e social. O seu site é www.joannamacy.net
Chris Johnstone: Com formação em medicina, psicologia, trabalho em grupo e em coaching, é um formador especializado em resiliência e bem-estar. Trabalha neste campo há mais de trinta anos e através dos seus cursos on-line, alcança pessoas de mais de 55 países. Após trabalhar como médico especialista em adições durante largos anos, nos serviços de saúde no Reino Unido, agora dedica-se ao coaching, à mentoria, à escrita e à formação. O seu site é www.chrisjohnstone.info