Ler à Sexta – A Ciência da Felicidade, de Bruce Hood
Será possível um equilíbrio entre o raciocínio e a autoajuda prática?
Sim, é o que nos apresenta o psicólogo Bruce Hood no seu guia maravilhoso de A Ciência da Felicidade. Neste livro é mapeado um caminho para o bem-estar e a força mental, levando-nos pela construção de pilares saudáveis entre o egocentrismo e o alocentrismo, entre o cuidar de nós e o olhar pelos outros.
Bruce Hood propõe, deslocarmo-nos do egocentrismo na direção saudável do outro e como podemos reorganizar os nossos pensamentos e emoções nessa jornada.
A Ciência da Felicidade, de Bruce Hood
Bruce Hood traça o nosso caminho para uma vida mais feliz, através de sete lições:
Primeira Lição: Alterar o Ego.
Segunda Lição: Evitar o Isolamento.
Terceira Lição: Rejeitar Comparações Negativas.
Quarta Lição: Ser Mais Otimista.
Quinta Lição: Controlar a Atenção.
Sexta Lição: Ligar-se aos Outros.
Sétima Lição: Sair de Nós Próprios.
O professor de psicologia, Bruce Hood, faz uma aproximação muito interessante ao sabermos descolar-nos do nosso egocentrismo, para podermos crescer, até em felicidade, na direção de uma genuína atenção para com os outros, que é chamada de alocentrismo:
Quando somos egocêntricos, somos dominantes no centro do nosso universo e percebemos que as relações tendem a ir numa direção. Temos impacto nos outros e, quando os outros têm impacto sobre nós, as trocas mútuas são poucas, pois temos a tendência a não ter em consideração a perspetiva do outro. Ao contrário das crianças, os adultos egocêntricos estão muito conscientes dos problemas atuais e dos potenciais problemas futuros. Vemos os nossos problemas como maiores do que realmente são. Não damos valor ao facto de os outros terem os seus próprios problemas ou, se os têm, não se comparam com os nossos.
No que nos diz respeito, as dificuldades que enfrentamos são as mais importantes.
Porém, há outra forma de ver o mundo: a partir de uma visão centrada nos outros, ou alocêntrica, que poderá conduzir a uma maior felicidade. Uma visão alocêntrica considera as perspetivas dos outros e a interconexão do mundo social
…
Ser menos egocêntrico desencadeia um processo psicológico conhecido como desapego ou descentramento. O desapego não é sinónimo de indiferença ou uma negação de pensamentos e emoções. Pelo contrário, é o ato de ver estes estados mentais de forma objetiva, o que é uma forma mais produtiva de introduzir uma distância psicológica entre nós e as nossas experiências mentais.
Ao longo destas sete lições, Bruce Hood traz-nos também a graciosidade e grande benece da Gratidão.
Podemos agora usar a nossa compreensão dos erros mentais de comparação e ancoragem para gerar um truque de felicidade que a maioria de nós deve conhecer. A gratidão é quando reparamos e damos valor às coisas positivas do mundo. Podemos estar gratos pelos outros que nos ajudaram, pelos prazeres quotidianos da vida ou simplesmente por estarmos vivos. O filósofo romano Cícero chamou à gratidão «não só a maior das virtudes, mas também a mãe das outras». Isto deve-se ao facto de a gratidão promover a felicidade, ao concentrar-se nos aspetos positivos e não nos negativos da nossa vida. Poderemos estar gratos pelos colegas, parceiros e outras pessoas importantes nas nossas vidas. Quando estamos gratos pelos outros, reforçamos os nossos laços sociais e recordamo-nos das nossas conquistas e do nosso valor próprio, pois somos levados a reconhecer as comparações sociais adequadas. Por sua vez, esta gratidão incentiva-nos a ajudar e a apoiar os outros. Além disso, não podemos sentir ciúmes ou inveja quando estamos gratos, pelo que as nossas comparações sociais são mais positivas. Quando pensamos em estar gratos, somos obrigados a reconhecer aquilo que temos a sorte de ter, e isso deverá desencadear as comparações com aqueles que não têm o mesmo que nós. Isso leva-nos a fazer uma comparação descendente, fazendo-nos tomar consciência da sorte que temos, concentrando-nos menos naquilo que sentimos que nos falta. Por fim, a gratidão faz-nos valorizar aquilo que temos, o que ajuda a combater a «adaptação», outro erro mental que abordaremos de seguida.
O que este livro me trouxe
Se por um lado o título “A ciência da Felicidade” me assustou um pouco, tendo o receio de ler um livro muito técnico, na verdade, foi maravilhoso descobrir uma leitura acessível, amável, bem dirigida, bem fundamentada e muito bem estruturada, que ao longo das sete lições, Bruce Hood nos traz. Mais ainda, foi com um imenso gosto que vi tantas dicas práticas, não só no final de cada capítulo, mas também encontradas em alguns subtópicos.
Sim, é um livro que recomendo, do qual retirei dezenas de anotações e que realmente tem utilidade para o nosso entendimento de tantas questões psicológicas e relacionais que nos afastam de nós mesmos e da felicidade.
Podes ler um excerto do livro aqui…
Mais informações sobre o autor e a sua obra na Nascente Editora
Conhece Bruce Hood
Bruce Hood é um premiado psicólogo britânico e professor de Psicologia do Desenvolvimento na Sociedade da Universidade de Bristol.
Em 2018, criou o curso mais popular da sua universidade, The Science of Happiness: um programa que assenta numa abordagem científica da compreensão da felicidade, e cujo objetivo é ensinar técnicas de psicologia positiva aos alunos com vista a melhorar o seu bem-estar mental. Com centenas de alunos a relatarem um aumento significativo no seu bem-estar e uma diminuição nos sentimentos de solidão, o curso tornou-se um módulo acreditado do ensino superior.
É autor e coapresentador do podcast The Happiness Half Hour. É também autor dos livros SuperSense (2009), The Self Illusion (2012), The Domesticated Brain (2014) e Possessed (2019).