Esclarecimento sobre o artigo O reiki é magia sem sentido nos cuidados de saúde
Esclarecimento,  Estudos sobre Reiki

Esclarecimento sobre o artigo “O reiki é magia sem sentido nos cuidados de saúde”

A 26 de Julho de 2024, o Dr David Marçal, “Bioquímico e Divulgador de Ciência” apresenta um artigo no Jornal Público intitulado “O reiki é magia sem sentido nos cuidados de saúde”.

Neste artigo podemos encontrar alguns pontos que podem contribuir para uma perspetiva desinformada sobre a prática de Reiki. São eles:

  1. Reiki como sendo uma magia
  2. Reiki é uma terapia alternativa e pseudociência
  3. Reiki é Vitalismo
  4. Mikao Usui, como guru
  5. Apresentação de artigos sem evidências positivas sobre os benefícios e de artigos sem o rigor de grupos de controlo;
  6. Apresentação de um estudo cujo resultado tem apenas a ver com a atenção exclusiva a um utente.
  7. Reiki é um mero placebo
  8. Reiki é um desperdício de dinheiro

Desejo trazer aos associados e praticantes de Reiki, um esclarecimento sobre estes pontos, presente no artigo do Dr. David Marçal. Irei fundamentar cada ponto com as necessárias referências, para que seja mais facilmente compreendido o ponto de vista.

Esclarecimento sobre o artigo “O reiki é magia sem sentido nos cuidados de saúde”

1 – Reiki como sendo uma magia

Começando pela colagem do termo “magia”, segundo ao autor, a Reiki, será sem dúvida uma opinião pessoal e subjetiva. O autor entende Reiki como sendo um ilusionismo? Um encanto? Ou como uma arte que pretende agir sobre a natureza e obter resultados contrários às suas leis? (segundo a definição da infopédia, dicionários Porto Editora).

Como opinião subjetiva tem todo o direito, segundo os direitos que todos subscrevemos pela liberdade de expressão, mas no entanto, poderá haver algum equívoco na terminologia, que é algo de tão importante no rigor jornalístico.

Reiki, ou melhor o método Usui Reiki Ryoho, apresenta uma filosofia de vida e uma prática terapêutica que é considerada complementar e integrativa, ou enquadrada como uma “terapêutica não convencional” (segundo a Ordem dos Enfermeiros).

Sendo que Reiki é uma prática com um profundo fundamento numa filosofia de vida própria e ao mesmo tempo de conceito universal, traz em si um contexto espiritual que é também muitas vezes interpretado como algo do campo religioso, quando não o é. A Drª Dori-Michelle Beeler e o Dr. Jojan Jonker, referem espiritualidade como “a ‘soma de tudo’ que contribui para a formação da atitude de uma pessoa perante a vida, na expetativa de alcançar o bem-estar. No nosso trabalho de campo, encontramos regularmente testemunhos que sugerem que ‘a espiritualidade é um modo de vida’; esta atitude imprime e influencia as ações e os atos de uma pessoa, tanto para dentro como para fora, tornando-a pessoal. Além disso, a literatura académica faz eco de frases como ‘A espiritualidade é um modo de vida no (crescimento do) discernimento para a plenitude humana, que se baseia num universo moral (Deus, natureza)’ (Hermans e Koerts 2013:204). Esta ‘espiritualidade pessoal’ não é um produto comercializado na prateleira, mas emerge e flutua ao longo da vida, além de moldar e remodelar continuamente o eu. Para além disso, a espiritualidade aborda questões existenciais relacionadas com a criação de sentido no que diz respeito à morte, ao tempo e ao mal. Na cultura ocidental contemporânea, a espiritualidade também deve abordar uma ênfase crescente na identidade e na autenticidade, uma vez que estas parecem ser centrais para a cultura atual. Para muitos, a vida tornou-se complexa, e as pessoas começam a refletir sobre a identidade e a autenticidade e, consequentemente, formam o seu próprio Leitmotiv, realçando ainda mais o carácter individual da espiritualidade.”

Mas como se sente quem pratica Reiki e que tipo de impacte lhe traz para a vida?

As respostas podem ser encontradas num trabalho académico de 2015 e num inquério realizado em 2020.

Em 2020 foi realizado um inquérito, por Elaine Hamilton Grundy, fundadora do The Reiki Centre, a cerca de 1288 praticantes, ao longo de 68 países, com o propósito de quantificar os benefícios de Reiki, como relatados pelos seus praticantes. Segundo Elaine:

“O Reiki é uma viagem interior subjetiva e pessoal, que encoraja a pessoa a crescer, a descobrir a sua vida interior e a reequilibrar-se.  Não é algo que possamos replicar cientificamente num laboratório.  Os estudos científicos podem ter o seu lugar numa faixa estreita de pesquisa sobre Reiki, mas a pesquisa do consumidor destaca o valor geral e verdadeiro de uma prática de Reiki. Os principais objetivos do inquérito de 2020 foram:
– Recolher as perceções e experiências pessoais para ajudar a quantificar as evidências dos benefícios do Reiki.
– Compreender os critérios-chave para utilizar o Reiki com sucesso para fornecer os benefícios máximos.
– Recolher dados de utilização e educação de Reiki para ajudar a orientar as melhores práticas dentro da comunidade Reiki.”

Deste estudo, destaco a secção sobre os “Maiores benefícios do Reiki”:

“As medidas mentais/emocionais registam uma maior percentagem de melhorias do que as mudanças físicas e de estilo de vida.

Extraordinariamente 92% dos inquiridos relataram mais paz, 91% melhoraram o bem-estar geral e 87% melhoraram o contentamento. 87% referiram menos raiva, 85% menos stress e 86% menos ansiedade/preocupação. Estes dados são retirados das duas primeiras classificações ‘melhorou’ e ‘melhorou significativamente’.

É de salientar que se registam melhorias em todas as medidas, incluindo a melhoria do sono e da alimentação. Também foram registadas melhorias na saúde física, menos dores de costas e dores de cabeça. Estes resultados falam por si, a ampla gama e amplitude de melhorias observadas em todas as medidas define o Reiki como um ideal ‘versátil’ para o bem-estar geral.”

Fonte: https://www.reiki-centre.com/2020-reiki-survey

Em 2015, a Prof. Elaine Bukowski, realiza um estudo intitulado “A utilização do auto-Reiki para a redução do stress e o relaxamento”. O estudo realizado a 20 alunos, da Universidade de Stockton, New Jersey, EUA, trouxe, segundo a sua análise, que “O Reiki pode ser uma forma de aumentar a consciencialização e compreensão da comunidade universitária relativamente aos determinantes da saúde e da doença. O Reiki pode também ser uma forma de promover a QV, o desenvolvimento saudável e os comportamentos saudáveis. Este estudo apoia a hipótese de que o efeito calmante do Reiki pode ser alcançado através do uso do auto-Reiki. O auto-Reiki é um potencial método de gestão de stress aplicável a estudantes universitários”.

O resumo deste estudo apresenta-nos:

“Objetivo: Mais de um terço dos estudantes universitários referiu o desejo de obter técnicas de redução do stress e educação. O objetivo deste estudo foi determinar os efeitos de um programa estruturado de 20 semanas de auto-Reiki na redução do stress e no relaxamento de estudantes universitários.

Métodos: Os estudantes foram recrutados na Universidade de Stockton e as sessões foram conduzidas na privacidade da sua residência. Vinte estudantes completaram todo o estudo, que consistiu em 20 semanas de auto-Reiki feitas duas vezes por semana. Cada participante completou uma Escala de Credibilidade da Linha de Base do Reiki, uma Escala de Expectativa do Reiki e uma Escala de Stress Percebido (PSS) após a aceitação no estudo. O PSS foi preenchido a cada quatro semanas após o início das intervenções. Um questionário de avaliação global foi preenchido no final do estudo. No final do estudo, foram apresentados registos que resumiam o resultado de cada sessão.

Resultados: Com a exceção de três participantes, os participantes acreditavam que o Reiki é uma técnica credível para reduzir os níveis de stress. Com exceção de dois participantes, os participantes concordaram que o Reiki seria eficaz na redução dos níveis de stress. Todos os participantes experimentaram stress no mês anterior ao preenchimento do PSS inicial. Houve uma redução significativa nos níveis de stress desde o pré-estudo até ao pós-estudo. Houve uma correlação entre a autoavaliação da melhoria e as pontuações finais da PSS. Com uma exceção, os níveis de stress às 20 semanas não voltaram aos níveis de stress anteriores ao estudo.

Conclusão: Este estudo apoia a hipótese de que o efeito calmante do Reiki pode ser alcançado através do uso do auto-Reiki.”

Fonte: Journal of Integrative Medicine 2015 Sep – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26343105/

Será Reiki uma magia? Com toda a certeza que não, quer pelo propósito da criação do método, quer pela definição que tem. O bem-estar que promove aos praticantes inseridos no método traz sim sensações e vivências que podem parecer maravilhosas, de profundo entendimento pessoal e, até em alguns casos, alívio emocional, sem interferir com o que possa ser um processo paralelo de psicoterapia.

2 – Reiki é uma terapia alternativa e pseudociência

O método de Reiki, ou Usui Reiki Ryoho, não é uma terapia alternativa, ou seja, não se apresenta como substituição de qualquer terapêutica ou mesmo medicina, muito pelo contrário, temos sempre o imenso cuidado de referir como sendo complementar, integrativa e caso queiramos ser mais precisos nas catalogações contemporâneas como “não convencional”.

O método de Reiki não é também uma pseudociência, ou seja, um “sistema de pensamento ou teoria a que erradamente se atribui um estatuto científico”, ou mesmo uma “teoria com aparência científica, mas que não usa métodos rigorosos de pesquisa”. Porque em primeiro lugar, o método em si não se apresenta como um projeto da ciência, mas como um método transformador da pessoa enquanto pessoa, que terá que fazer esse percurso pela filosofia de vida. E em segundo lugar, porque os mais de 500 estudos realizados ao longo dos anos, têm vindo a ser realizados por investigadores que tentam encontrar benefícios para a melhoria das condições de bem-estar e saúde das pessoas, não para encontrar vantagens sobre medicinas ou terapias, como se se apresentassem concorrentes. E é esta a grande realidade, a prática de Reiki é para o desenvolvimento pessoal em todas as suas dimensões e os estudos servem para encontrar respostas às dúvidas sobre de que forma poderá ajudar pessoas nas suas mais variadas condições. Naturalmente, não sendo estudos financiados, não têm uma capacidade de grande amostragem, ou de um grande período de tempo de estudo, como muito naturalmente qualquer pessoa que realiza um estudo sabe que precisa. Portanto, a caracterização como pseudociência é uma perspetiva subjetiva que nada acrescenta, mas que tenta diminuir o esforço de tantos académicos e investigadores por todo o mundo.

Mas vamos tentar compreender, através do jornalismo sério e bem fundamentado, o impacte que o método e a terapia complementar Reiki traz à sociedade.

A 10 de Outubro de 2019, o jornal Público lança a seguinte notícia: “PÚBLICO conquista segundo prémio de jornalismo na área da dor”.

“O segundo prémio da 8ª edição do Prémio de Jornalismo na Área da Dor promovido pela Fundação Grünenthal, com o apoio da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED), foi entregue à Jornalista Susana Pinheiro do Público, com a reportagem ‘ir ao Hospital fazer acupuntura, hipnose ou Reiki’.” (https://www.publico.pt/2019/08/11/sociedade/reportagem/ir-hospital-acupuntura-hipnose-reiki-1882841).

Neste artigo de 11 de agosto de 2019, da laureada Jornalista Susana Pinheiro, podemos ler uma perspetiva de opinião da Ordem dos Enfermeiros:

“Já a Ordem dos Enfermeiros (OE) vê com bons olhos a introdução destas terapêuticas no SNS e ainda mais quando são os próprios médicos e enfermeiros a fazê-las. Por exemplo, há cada vez mais formados em reiki, osteopatia e outras terapêuticas não-convencionais. ‘não temos o preconceito da Ordem dos Médicos em relação às terapias não-convencionais, porque as vemos como complementares à enfermagem tradicional, sendo compatíveis’, argumenta a bastonária Ana Rita Cavaco, dando o exemplo “dos bons resultados e indicadores da hipnose para os doentes” com dor crónica e fibromialgia na Unidade de Dor do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.”

Também no mesmo artigo podemos encontrar:

“No Hospital do Fundão há lista de espera para as consultas de reiki que decorrem aos sábados de manhã, desde 2013, integradas nas consultas externas, informa Paula Roque, coordenadora do núcleo do Fundão da Associação Portuguesa de Reiki (APR). Só em 2018 os três terapeutas voluntários fizeram 279 consultas a um total de 75 utentes, a maioria deles por ansiedade, depressão e doença oncológica. Acutalmente, acompanham quatro dezenas.

Qualquer pessoa pode telefonar para o hospital e marcar a consulta, mas muitos dos doentes são enviados por médicos devido a estados de ansiedade e depressão. ´Funciona como um complemento à medicina convencional´, continua Paula Roque. No caso dos doentes oncológicos, ‘relatam estar mais relaxados, conseguir dormir melhor e ter menos efeitos secundários da quimioterapia, como menos cansaço e enjoos’, divulga. ‘Mas não fazemos diagnóstico médico. O reiki não é ciência e não substitui a medicina convencional e nem sequer é esotérico ou tem uma crença religiosa’, salvaguarda João Magalhães, presidente da APR, na Amadora, que desenvolveu uma comissão nacional de Reiki” (Comissão Nacional de Ética para a Terapia Reiki).

Como damos sempre mais importância e validade ao que vem de fora de Portugal, o que se apresenta em instituições de relevo noutros países?

Vamos observar o exemplo que a Mayo Clinic dá, na sua página de oncologia integrativa (https://www.mayoclinic.org/departments-centers/integrative-oncology/overview/ovc-20542190):

“A prática do reiki tem como objetivo equilibrar o fluxo de energia de uma pessoa. A terapia é passiva para a pessoa que a recebe e não tem efeitos secundários conhecidos. Estudos demonstraram que pode reduzir a dor em pessoas com cancro e pode aliviar a ansiedade e a depressão.”

No NHS University College London Hospitals:

“O Reiki pode ajudar-te a sentir-te profundamente relaxado e calmo. Podes sentar-te ou deitar-te para receberes reiki. Estarás completamente vestido durante a sessão. Enquanto relaxas, o terapeuta toca suavemente no teu corpo ou mesmo por cima dele. As mãos do terapeuta permanecem imóveis, sem qualquer movimento ou pressão. A quietude pacífica pode dar-te uma sensação de calma que pode beneficiar o teu bem-estar geral.”

O UK Healthcare indica:

“Reiki é uma prática de cura japonesa não invasiva que envolve a colocação das mãos por cima ou suavemente sobre o corpo, usando a “energia da força vital” para facilitar o relaxamento e a redução do stress e para promover a cura. Este método de tratamento personalizado e individual pode ser adaptado às necessidades e preferências do indivíduo, com os clientes completamente vestidos e com sessões de duração e abordagem variáveis. No UK HealthCare, o Reiki pode ser fornecido por si só ou adicionado a qualquer sessão de massagem.
Quais são os benefícios do Reiki?
Para além de proporcionar uma sensação de calma e promover o relaxamento, o Reiki tem demonstrado reduzir eficazmente a dor e a ansiedade, melhorar o sono, aliviar o stress e a depressão, e acelerar a recuperação após procedimentos cirúrgicos.”

No Cancer Council Australia, onde oferecem Reiki como terapia complementar, podemos ler sobre estas terapias:

“As terapias complementares são utilizadas em conjunto com os tratamentos médicos convencionais e são cada vez mais consideradas uma parte importante dos cuidados de apoio, que ajudam as pessoas a enfrentar uma vasta gama de desafios para além do tratamento médico ou do cancro. O seu objetivo é melhorar o bem-estar geral e a qualidade de vida e podem ajudar as pessoas a lidar com os efeitos secundários do cancro.”

3 – Reiki é Vitalismo

Atribuir o método e a energia Reiki a algo conhecido pelos conceitos ocidentais, ou por definições do séc XVIII, podemos entrar em campos de deturpação de princípio e fundamento.

Então, como se pode caracterizar Reiki, vendo em primeiro lugar o aspecto de terapia através das mãos:

O Dr Justin Stein da Kwantlen Polytechnic University, Asian Studies, escreveu amplamente sobre as origens, significados e história de Reiki. Diz ele que:

“O ‘reiki’ sensu lato tornou-se uma espécie de ‘flutuante’ ou ‘significante vazio’, denotando fenómenos variados que vão desde práticas de trabalho corporal até à crença no poder da ‘energia’, intenção ou destino, semelhante à forma como o ‘zen’ deixou de identificar uma escola budista em particular para descrever uma sensação vagamente definida de calma e simplicidade com uma dose de exotismo asiático. Para definir o ‘Reiki’ sensu stricto, ofereço um conjunto central de ‘semelhanças familiares’ partilhadas pela maioria dos praticantes.

Os estudiosos japoneses consideram a Terapia Usui Reiki um exemplo paradigmático de “terapia com as mãos” (teate ryōhō) ou “tratamento com as palmas das mãos” (tenohira ni yoru ryōhō). Dito isto, um número crescente de praticantes mantém as suas mãos uma ou duas polegadas acima dos corpos dos receptores, o que fontes autorizadas estão a começar a refletir. Um artigo sobre cura e medicina na Enciclopédia da Religião diz: ‘O tratamento Reiki é um bom exemplo de toque não-físico’, ‘feito a nível astral ou energético, em vez de através do contacto direto com a pele do paciente’,41 e a página web do Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa dos EUA sobre Reiki mostra as mãos de um praticante a cerca de duas polegadas acima do corpo do recetor.”

Fonte: Stein, Justin B.. Alternate Currents: Reiki’s Circulation in the Twentieth-Century North Pacific (p. 13). University of Hawaii Press.

A Drª. Ann Vitale, pesquisadora, professora e autora de “Reiki and Its Journey Into a Hospital Setting”, publicado no Holistic Nursing Practice, diz sobre Reiki:

“A terapia de toque Reiki é uma terapia complementar de energia de bio-campo que envolve o uso das mãos para ajudar a fortalecer a capacidade de cura do corpo.”

Segundo o entendimento e área de intervenção de cada um destes especialistas, Reiki apresenta-se como uma técnica de tratamento “espiritual”, mas falta ainda observarmos o aspecto da filosofia de vida, que surgiu três anos antes da criação da escola do Usui Reiki Ryoho, em abril de 1922. Vamos ler a definição de Reiki que o Dr. Justin Stein deu para o livro Reiki Usui, publicado pela Editora Nascente na celebração dos 100 anos do Usui Reiki Ryoho:

“Mais estritamente, o «Reiki» é um conjunto de práticas sistematizadas pela primeira vez no Japão dos anos 1920 (mas evoluídas desde então), destinadas a melhorar o bem‑estar físico, emocional, mental e espiritual. Nos primeiros registos que temos, essas práticas eram chamadas coletivamente Terapia Reiki Usui (Usui Reiki Ryōhō). A Terapia Reiki Usui baseava‑se na ideia de que, através do treino e da prática, todos são capazes de melhorar a própria saúde e a saúde dos outros. Embora todos partilhem esta capacidade, foi dito que a aptidão de uma pessoa vai crescendo à medida que se envolve em certas formas de meditação, incluindo a reflexão sobre os ‘cinco princípios’ (gokai) e outros textos para «corrigir» o coração–mente (kokoro), e também como exercícios de visualização e respiração. Com o tempo, muitas dessas práticas foram esquecidas e os autotratamentos diários, «ouvir» as próprias mãos e estar aberto aos ensinamentos

do Reiki tornaram‑se métodos difundidos para cultivar a si e à sua prática. Entre os diferentes estilos de Reiki há um entendimento comum de que o reiki é um dom universal, mas a capacidade de uma pessoa estar «em sintonia» com o reiki pode aumentar e diminuir em função de vários fatores, incluindo a regularidade da prática e a «abertura» para o momento presente. Além disso, a saúde é considerada um fenómeno holístico, de forma que a busca pela cura física é inseparável de ter um coração–mente saudável e envolver‑se no desenvolvimento moral e espiritual, todos relacionados ao poder do reiki.”

Sobre o vitalismo

Dando uma resposta sobre o vitalismo, o Dr. Francis Vendrell, físico e presidente da Swiss Reiki diz:

“A terapia Reiki desenvolveu-se no Japão como uma prática pragmática e, portanto, não se baseia em crenças, como o artigo indica, mas apenas em procedimentos. O artigo refere-se ao vitalismo, que é uma teoria filosófica que se desenvolveu no Ocidente. Não tem nada a ver com as filosofias orientais. Por isso, a terapia Reiki não tem nada a ver com o vitalismo.

O vitalismo afirma que a vida não pode ser explicada por mecanismos físico-químicos. No entanto, as pessoas que recorrem ao Reiki notam efeitos no seu corpo e no seu espírito. Os médicos podem observar e avaliar a melhoria do estado geral de saúde dos seus pacientes que recebem tratamento de Reiki, por vezes em ligação com uma patologia. Isto leva-nos a crer que o Reiki tem de facto um efeito físico-químico.  O efeito do Reiki é natural e não sobrenatural. A magia não tem nada a ver com isso.

O vitalismo não ajuda, portanto, a explicar o reiki. Felizmente, há explicações mais sérias. A ciência tem-se esforçado por compreender os mecanismos pelos quais o reiki funciona, e avança lentamente, com todo o rigor necessário.

O autor cita alguns artigos que ele próprio escolheu, sem explicar os seus critérios, dos quais tira conclusões gerais. É o que se chama “cherry-picking”. Felizmente, não é assim que a ciência funciona. Em todos os casos, é importante ter cuidado e evitar tirar conclusões precipitadas. Os leitores interessados em obter uma imagem mais precisa dos estudos clínicos sobre Reiki podem consultar a base de dados www.reiki.swiss/ciencia

Regressando à Drª Ann Vitale, ela refere-se a Reiki como fazendo parte do biocampo. Este é um termo relativamente “recente”, que se tem dedicado ao estudo da energia patente em nós, seres humanos.

Publicado na Global Advances in Integrative Medicine and Health, novembro de 2015, o estudo “Ciência e cura por biocampo: História, terminologia e conceitos” pela Drª Beverly Rubik, com um doutoramento em biofísica pela University of California, Berkeley, apresenta-nos o seguinte:

“A ciência do biocampo é um campo de estudo emergente que tem como objetivo fornecer uma base científica para a compreensão da complexa regulação homeodinâmica dos sistemas vivos. Ao aprofundar o nosso conhecimento científico do biocampo, chegamos a uma melhor compreensão dos fundamentos da biologia, bem como dos fenómenos que têm sido descritos como “medicina energética”. A medicina energética, a aplicação de sinais de nível extremamente baixo ao corpo, incluindo intervenções de curandeiros energéticos e terapias baseadas em dispositivos bio-electromagnéticos, é incompreensível a partir do paradigma biomédico dominante de “vida como química”. O biocampo ou campo biológico, um campo de energia organizador complexo envolvido na geração, manutenção e regulação da homeodinâmica biológica, é um conceito útil que fornece os rudimentos de uma base científica para a medicina energética e, assim, faz avançar a investigação e a prática da mesma”.

Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4654789/

Sobre a Drª Beverly Rubik: https://www.brubik.com/publications.html

Creio que neste ponto sobre Reiki e Vitalismo podemos tirar que não podemos comparar uma prática conceptual, filosófica e terapêutica japonesa do seu contexto e querer compará-la a definições ocidentais do séc. XVIII, que as definições de Reiki dependem do contexto académico e experimental dos seus investigadores, e que hoje em dia, a ciência tenta compreender melhor as abordagens relativas a energia através da ciência do biocampo e com isto não estou a dizer que Reiki é uma ciência, ou comprovado pela ciência, apenas que este campo científico existe, observa e realiza estudos para compreender o que é Reiki.

4 – Mikao Usui como guru

Diz o autor do artigo que “No dia 15 de Agosto de 1865 nasceu em Gifu, no centro do Japão, Mikao Usui, o monge budista a quem se credita a criação do reiki. Segundo conta a Associação Portuguesa de Reiki, ele “um dia foi para o monte Kurama (..) e após 1 dias começou a sentir reiki (energia universal) no topo da sua cabeça”.

Esta é uma história típica das terapias alternativas: um guru tem uma solitária epifania que decide partilhar com o mundo. Mas a ciência não avança dessa maneira: é um processo gradual e cumulativo que resulta da interação continuada entre investigadores no quadro da comunidade científica: não há lugar para gurus”

Mikao Usui (1865-1926), nascido em Taniai, no Japão, não foi um guru, nem se apresentou como um guru, foi sim reconhecido pelos seus alunos após o seu falecimento como “um homem de grandes virtudes e méritos”. A sua caracterização como pessoa pode ser encontrada da tradução do seu memorial “era de natureza doce, gentil e humilde. Fisicamente, era robusto e forte, mas sempre com um sorriso nos lábios. Contudo, se algo se passava, preparava-se para arranjar solução com firmeza e paciência”. 

Mais ainda, nunca fez propaganda do seu método e proibiu quaisquer práticas religiosas no seu espaço de prática, para que o método não fosse confundido. Teve 2000 alunos, o que para um método japonês era pouquíssimo, quando alunos dele tiveram, 500000 alunos (Toshihiro Eguchi 1873-1946).

Um guru é alguém que tem uma autoridade indiscutível e à qual todos cumprem as suas indicações sem questionar, podemos nós considerar que se torna alguém exclusivo e que poderá querer restringir, no entanto, foi exatamente o contrário que fez quando pediu ao seu aluno, o Dr Chujiro Hayashi, médico da Marinha Imperial Japonesa, para abrir o seu centro em Tóquio, pois iria auxiliar muitas pessoas.

Nos dias de hoje, as pessoas olham para Mikao Usui não como um guru, ou um deus, mas sim como um professor, um mestre, a quem prestamos homenagem por ter criado um método que nos auxilia e guia para “uma vida pacífica e feliz”. Este é um termo profundamente enraizado na cultura japonesa, assim como o sentido de respeito por alguém genuinamente bom, algo que no ocidente por vezes se perde por se procurar antes uma vida feliz a qualquer custo e esquecendo-nos muitas vezes da sabedoria de outros que vieram antes de nós. A nossa gratidão e reconhecimento está pelos seus ensinamentos.

E sobre os ensinamentos do Mestre Usui, eles trouxeram impacto à vida das pessoas, por exemplo:

“Christine Robinson diz que as sessões com Kaufman têm sido maravilhosas para a sua filha Abby, de 11 anos, que sofre de fadiga grave relacionada com o seu tratamento no Dana-Farber para a leucemia linfocítica aguda de células T (ALL) há sete anos. ‘O Reiki ajuda-a a desanuviar a cabeça e dá-lhe uma energia positiva para se alimentar, e a Abby está ansiosa por escolher os seus botões’, diz Robinson. ‘Há algo de especial na Paula que faz com que a Abby se sinta segura. Eu também sinto isso.’.”

Este é um dos muitos exemplos vividos no Dana-Farber Cancer Institute e da história Sobrevivente usa Reiki e “terapia do botão” para ajudar outros que enfrentam o cancro. Onde a terapeuta de Abby foi também ela uma utente do Instituto com um cancro colorectal de estágio 3 e que foi tratada complementarmente com Reiki, ajudando a “aliviar a náusea e outros efeitos secundários do tratamento”. São muitas as histórias por todo o mundo, não servem como estudos científicos analíticos, mas sim como vivências de sobreviventes das mais diversas dificuldades e transformações de vida.

Mikao Usui não é nem foi um guru, mas trouxe-nos algo de especial e que não é magia.

5 – Apresentação de artigos sem evidências positivas sobre os benefícios e de artigos sem o rigor de grupos de controlo

De acordo com a antropóloga Dori Beeler sobre o estudo “The Effect of Reiki Therapy on Cancer Pain Management in Palliative Care Patients: A Systematic Review”, publicado em Bezmialem Science 2022

“Na sua pesquisa de literatura, apenas encontraram 19 artigos, e apenas 5 desses artigos cumpriam os critérios de inclusão do estudo. Isto não é muito para uma revisão sistemática. O número limitado de artigos (19) diz-me que o campo da investigação médica do Reiki ainda é jovem e precisa de crescer antes de podermos dizer o que funciona e o que não funciona – se é mágico ou não. Dos 5 estudos analisados, concluíram que quatro tinham um nível de evidência II e III. Isso é muito bom para um “novo” campo de investigação. Os níveis II e III são definidos como “Nível II: Evidência que é gerada a partir de pelo menos um ensaio controlado aleatório bem concebido e evidência de nível III: Evidência que é gerada a partir de ensaios controlados bem concebidos sem aleatorização”, sendo o Nível VII o mais baixo. É claro que a aleatorização é o padrão de ouro para o nível mais elevado de evidência. Por isso, tens de te perguntar a ti próprio… isto é realmente “evidência de baixa qualidade” – não, não é, diria eu. Para terminar, os autores desta revisão afirmam na sua conclusão: “Em conclusão, o reiki tem um efeito positivo na redução da dor.”

“Em conclusão, o reiki tem um efeito positivo na redução da dor. A administração deste método a todos os doentes com dor, incluindo doentes em unidades de cuidados paliativos, pode contribuir positivamente para a gestão da dor dos doentes. No entanto, na reikiterapia, são necessários ensaios aleatórios controlados com um grande grupo de amostras. É necessário responder a questões como: qual a posição das mãos a utilizar para diferentes doenças, a duração da sessão de reiki e a frequência com que será praticada, a duração da prática e a formação do praticante de reiki (7,17).”

Outro estudo poderá também trazer a apresentação de resultados, segundo Dori Beeler:

Efeitos do Reiki na Atividade Autonómica após Síndrome Coronária Aguda

Este estudo mediu os efeitos autonómicos a curto prazo do Reiki em pacientes internados imediatamente após a SCA, uma população com disfunção autonómica em que a melhoria da VFC é conhecida por ser protetora. O Reiki, administrado por enfermeiros, aumentou significativamente a atividade vagal, medida pela VFC, em comparação com as condições de repouso e de controlo musical, com uma diminuição dos estados emocionais negativos e um aumento dos positivos. A magnitude do efeito na VFC do IC foi semelhante à do propranolol no BHAT (Beta Blocker Heart Attack Trial). Estes resultados sugerem um potencial papel clínico para o Reiki no ambiente de internamento pós-ACS. Investigações futuras devem avaliar se o tratamento com Reiki durante um período mais longo pode gerar benefícios duradouros para o equilíbrio autonómico e bem-estar psicológico em pacientes após SCA.

Além disso, este estudo demonstra que o tratamento com Reiki é seguro e viável no contexto de cuidados agudos. Não se registaram eventos adversos, e nenhum foi previamente reportado. Os tratamentos foram realizados por enfermeiros com formação em Reiki que trabalham em unidades cardíacas. Isto sugere que o Reiki pode ser incorporado nos cuidados hospitalares padrão para proporcionar benefícios terapêuticos sem custos adicionais ou perturbação do dia de trabalho dos enfermeiros.

Não se sabe se os efeitos benéficos do tratamento Reiki sobre a música resultam da presença de outra pessoa, da presença de uma pessoa com intenção de cura, da técnica do toque leve, ou de uma combinação de factores. Para compreender melhor os mecanismos envolvidos no impacto do Reiki na atividade autonómica, é necessário comparar o Reiki com outros grupos de controlo, incluindo o toque leve sem Reiki e a interação humana intencional sem toque.

Em conclusão, em pacientes hospitalizados pós-ACS, o Reiki aumentou a HRV HF e melhorou o estado emocional. São necessários mais estudos para avaliar se o tratamento com Reiki pode representar uma abordagem não-farmacológica a longo prazo para melhorar a VFC e o prognóstico após SCA.

Fonte: Journal of the American College of Cardiology, Effects of Reiki on Autonomic Activity Early After Acute Coronary Syndrome

Outro estudo, de 2024, apresenta resultados sobre positivos sobre as melhorias significativas da qualidade do sono em utentes com cancro de mama e próstata:

O efeito da energia dos tratamentos de reiki na qualidade do sono de pacientes com cancro da mama e da próstata em terapia hormonal.

“Antecedentes: Muitos doentes com cancro que recebem terapia hormonal têm dificuldade em dormir e insónias. O Reiki é uma técnica em que a terapia é aplicada ao paciente sem toque físico ou com um toque muito ligeiro, ao passo que a massagem tradicional utiliza a pressão e o movimento do terapeuta para manipular os tecidos moles. Tanto o Reiki como a massagem tradicional têm demonstrado ser eficazes em proporcionar benefícios na qualidade do sono. Este estudo é o primeiro a comparar as alterações na qualidade do sono após tratamentos de massagem e Reiki em pacientes com cancro da próstata e da mama que recebem terapia hormonal. Métodos: Oitenta e sete pacientes com cancro da mama (n = 56) e da próstata (n = 31), a receberem terapia hormonal e com fadiga auto-relatada ≥4/10, foram incluídos neste estudo controlado e aleatório (RCT). Os pacientes foram seleccionados aleatoriamente para um dos três braços de tratamento durante 4 semanas: O braço 1 recebeu dois tratamentos de massagem, o braço 2 recebeu dois tratamentos de Reiki e o braço 3 recebeu quatro tratamentos de Reiki. Cada sessão de tratamento durou aproximadamente 75 minutos. Os participantes com uma pontuação inicial de ( ≥8) no ISI foram incluídos nesta análise. Resultados: 75% de todos os participantes inscritos (n = 65) preencheram os critérios de inclusão para insónia clinicamente significativa na linha de base. Tanto o Reiki como a massagem proporcionaram melhorias na qualidade do sono desde a pré até à pós-intervenção e não houve diferença entre 2 e 4 sessões de Reiki. O Reiki aumentou significativamente a qualidade do sono (p > .01) com uma diminuição média na pontuação total do ISI de 2,96. A massagem terapêutica mostrou uma tendência para melhorar a qualidade do sono (p = 0,06) com uma diminuição média na pontuação ISI de 1,95. Verificou-se uma diminuição clinicamente significativa na pontuação total do ISI (≥6) em 15% dos que receberam massagem terapêutica, em comparação com 25% no grupo de terapia reiki. Conclusões: Quatro semanas de Reiki melhoraram significativamente a qualidade do sono em pacientes com cancro da mama e da próstata a receber terapia hormonal. O Reiki pode ser uma melhor terapêutica não farmacológica para melhorar a qualidade do sono.”

Fonte: Journal of Clinical Oncology – The effect of energy from reiki treatments on sleep quality for patients with breast and prostate cancer on hormone therapy.

Estes estudos não podem ser só observados pelos seus resumos, mas devem ser lidos na integra para uma completa compreensão do esforço e da qualidade de trabalho.

6 – Apresentação de um estudo cujo resultado tem apenas a ver com a atenção exclusiva a um utente.

No seu artigo, o autor descreve que os resultados da diminuição de ansiedade e percepção de dor, num estudo realizado num hospital italiano, não são consideráveis: “Sem surpresa, os níveis de ansiedade e perceção de dor dos pacientes baixaram drasticamente depois das sessões de reiki. Isso é o que se espera que aconteça quando alguém tem o cuidado e a atenção exclusivos de uma enfermeira durante meia hora, mas não prova de modo nenhum que a magia do reiki funciona.”

Então há um estudo que apresenta resultados positivos, mas segundo o autor, não pode ser considerado porque é o resultado da atenção exclusiva de uma enfermeira durante meia hora. Sugere então que se faça um estudo de larga escala onde uma enfermeira fica dentro de uma sala com a pessoa, em silêncio durante meia hora sem lhe fazer nada e outra enfermeira, durante meia hora aplica Reiki? Existirão diferenças? Seria interessante haver um investimento para a realização deste estudo se o autor indica que poderão ser a mesma coisa.

Como referido anteriormente pela Drª Dori-Michele Beeler, criticado e colocado em causa, este estudo apresenta as seguintes conclusões:

Em conclusão, o reiki tem um efeito positivo na redução da dor. A administração deste método a todos os doentes com dor, incluindo doentes em unidades de cuidados paliativos, pode contribuir positivamente para a gestão da dor dos doentes.
No entanto, na terapia reiki, são necessários ensaios aleatórios controlados com um grande grupo de amostras. É necessário responder a questões como: que posição da mão utilizar para diferentes doenças, a duração da sessão de reiki e a frequência com que será praticada, a duração da prática e a formação do praticante de reiki (7,17).

Creio que todos aqueles que já acompanharam alguém em cuidados paliativos, compreendem a importância de fornecer o melhor conforto e cuidado à pessoa, segundo este estudo… porque não Reiki?

Também um estudo de 2024, publicado na BMC Paliative Care apresenta o seguinte:

Métodos
Em conformidade com os padrões académicos, foi realizada uma pesquisa exaustiva em bases de dados conceituadas como a PubMed, Web of Science, Science Direct e a Biblioteca Cochrane. O objetivo principal desta pesquisa era identificar artigos revistos por pares publicados em inglês que satisfizessem critérios específicos: (1) empregando um desenho de estudo experimental ou quasi-experimental, (2) incorporando a terapia Reiki como variável independente, (3) englobando diversas populações de pacientes juntamente com indivíduos saudáveis, e (4) avaliando a ansiedade como o resultado medido.

Resultados
O estudo envolveu 824 participantes, todos com idade igual ou superior a 18 anos. Verificou-se que a terapia Reiki teve um efeito significativo na intervenção da ansiedade(SMD=-0,82, 95CI -1,29∼-0,36, P = 0,001). A análise de subgrupos indicou que os tipos de sujeitos (indivíduos com doença crónica e população adulta em geral) e a dosagem/frequência da intervenção (≤ 3 sessões e 6-8 sessões) foram fatores significativos que influenciaram a variabilidade na redução da ansiedade.

Conclusão
Intervenções terapêuticas de Reiki de curta duração, de ≤ 3 sessões e 6-8 sessões, demonstraram eficácia na redução da ansiedade em relação à saúde e ao procedimento em pacientes com condições crónicas como inflamação da endoscopia gastrointestinal, fibromialgia e depressão, bem como na população em geral. É importante notar que a eficácia da terapia Reiki na diminuição da ansiedade pré-operatória e da ansiedade relacionada com a morte em pacientes pré-operatórios e pacientes com cancro é um pouco menos consistente. Estas discrepâncias podem ser atribuídas a estados fisiopatológicos individuais, condições psicológicas e expectativas de tratamento.

Fonte: BMC Paliative Care Therapeutic effects of Reiki on interventions for anxiety: a meta-analysis

São necessários mais estudos, com certeza, creio que os interessados em compreender se Reiki é útil ou não, poderão colocar neles mais investimento.

7 – Reiki é um mero placebo

Apresento dois estudos para reflexão:

1 – O Reiki beneficia os sintomas de saúde mental mais do que o placebo?

Contexto: Reiki é uma técnica de cura energética ou terapia de bio-campo em que um terapeuta sintonizado coloca as mãos sobre ou perto do corpo do cliente e envia energia para o cliente para ativar a capacidade do corpo de se curar a si próprio e restaurar o equilíbrio. Foi desenvolvida no Japão no final do século XIX por Mikao Usui de Quioto. Dada a enorme carga socioeconómica internacional da saúde mental, tratamentos baratos, seguros e baseados em evidências seriam bem-vindos. O Reiki é seguro, barato e as pesquisas preliminares sugerem que pode ajudar no tratamento de uma grande variedade de doenças. Dado que o Reiki é uma terapia de bio-campo, com uso crescente, e ainda não aceite pelo paradigma biomédico dominante, é importante estabelecer a sua eficácia em relação ao placebo. Este estudo teve como objetivo examinar a eficácia do Reiki sobre o placebo no tratamento de sintomas de saúde mental e explorar parâmetros para a sua eficácia.

Método: Uma revisão sistemática de ensaios aleatórios controlados por placebo (RPCTs) que examinam a eficácia do Reiki no tratamento de sintomas de saúde mental em adultos foi conduzida através de uma pesquisa sistemática no PubMed, PsycINFO, MEDLINE, CINAHL, Web of Science, Scopus, Embase e ProQuest. Catorze estudos preencheram os critérios de inclusão, e o risco de viés foi avaliado usando a ferramenta de avaliação ROB 2 Revisada da Cochrane. Seguiu-se uma avaliação da classificação das recomendações, da avaliação, do desenvolvimento e das avaliações (GRADE).

Resultados: A evidência até à data sugere que o Reiki demonstra consistentemente um maior efeito terapêutico sobre o placebo para alguns sintomas de saúde mental. O nível de evidência GRADE é alto para níveis clinicamente relevantes de stress e depressão, moderado a alto para níveis clinicamente relevantes de ansiedade, baixo a moderado para níveis normais de stress, e baixo a moderado para burnout, e baixo para níveis normais de depressão e ansiedade.

Conclusão: Os resultados sugerem que, o Reiki pode ser mais eficaz no tratamento de algumas áreas da saúde mental, do que o placebo, particularmente se os sintomas forem clinicamente relevantes. Até à data, há um pequeno número de estudos em cada área, por isso os resultados são inconclusivos e são necessários mais ensaios clínicos controlados para o placebo na investigação do Reiki. A maioria dos estudos incluídos também foram avaliados como tendo um risco de viés de alguma preocupação. Incorporar o Reiki como um tratamento complementar à psicoterapia convencional para a depressão, stress e ansiedade pode ser apropriado.

Fonte: Front. Psychol., 12 July 2022 – Does Reiki Benefit Mental Health Symptoms Above Placebo?

2 – Reiki é melhor do que placebo e tem grande potencial como terapia complementar de saúde

Resumo

Este estudo revê os estudos clínicos disponíveis sobre o Reiki para determinar se há provas de que o Reiki proporciona mais do que apenas um efeito placebo. A literatura disponível em língua inglesa sobre o Reiki foi revista, especificamente para estudos clínicos revistos por pares com mais de 20 participantes no braço de tratamento do Reiki, controlando o efeito placebo. Dos 13 estudos adequados, 8 demonstraram que o Reiki é mais eficaz do que o placebo, 4 não encontraram nenhuma diferença, mas tinham um poder de resolução estatística questionável, e apenas um forneceu evidências claras de não fornecer benefícios. Vistos coletivamente, estes estudos fornecem um apoio razoavelmente forte para o Reiki ser mais eficaz do que o placebo. Com base na informação atualmente disponível, o Reiki é uma terapia “complementar” segura e suave que ativa o sistema nervoso parassimpático para curar o corpo e a mente. Tem potencial para uma utilização mais ampla na gestão de condições crónicas de saúde e, possivelmente, na recuperação pós-operatória. É necessária investigação para otimizar a aplicação do Reiki.

Conclusão:

O Reiki é uma modalidade de cura segura, suave e profundamente relaxante que pode ser praticada por qualquer pessoa que tenha recebido uma “sintonização” de um mestre de Reiki. Esta revisão encontrou evidências razoavelmente fortes de que o Reiki é mais eficaz do que o placebo, sugerindo que a sintonização do Reiki leva a um aumento quantificável na capacidade de cura.

O Reiki é melhor do que o placebo na ativação do sistema nervoso parassimpático, como medido pela redução da frequência cardíaca, redução da pressão arterial e aumento da variabilidade da frequência cardíaca. Para pacientes com doenças crónicas, o Reiki tem sido mais eficaz do que o placebo na redução da dor, ansiedade e depressão, e para melhorar a autoestima e a qualidade de vida. Segundo o modelo de integração neurovisceral e a teoria polivagal, estes efeitos devem-se a uma maior atividade do sistema nervoso parassimpático, mediada pelo nervo vago.

Este entendimento sugere que o Reiki tem o potencial de fornecer um apoio valioso para uma ampla gama de condições crónicas de saúde. No entanto, não há justificação para considerar o Reiki como uma cura para qualquer condição de saúde. Em vez disso, o Reiki deve ser considerado como uma terapia complementar que pode ser implementada juntamente com todas as outras técnicas médicas e terapêuticas.

Recomenda-se mais investigação para ajudar a otimizar a aplicação do Reiki para condições de saúde específicas e para examinar os benefícios decorrentes da prestação de múltiplas sessões de Reiki durante um longo período de tempo.

Fonte: Journal of Evidence-Based Complementary & Alternative Medicine – Reiki Is Better Than Placebo and Has Broad Potential as a Complementary Health Therapy

Creio que estes dois estudos explicam a diferença entre Reiki e placebo.

8 – Reiki é um desperdício de dinheiro

Naturalmente, o tema de desperdício de dinheiro fez surgir vários comentários incendiários sobre os gastos do SNS, neste artigo do “Jornal Público”, mas onde é que o SNS gasta dinheiro com a prática de Reiki? Ou será que todos os projetos que são de prática de Reiki não serão antes em voluntariado, estando as despesas a cargo dos voluntários que se deslocam e das Associações (sem fins lucrativos) envolvidas nos projetos?

Suzie Ruggles, Directora/Fundadora da Full Circle Fund Therapies diz:

“Em nome da Full Circle Fund Therapies, que orgulhosamente acolhe o ‘Connecting Reiki with Medicine’ no St George’s Hospital, gostaria de te dizer que estou muito contente com o desenvolvimento deste projeto.  A Full Circle trabalha em algumas das áreas de maior necessidade, desde o transplante de medula óssea, às enfermarias de cancro e aos cuidados intensivos.  Escusado será dizer que as pessoas que estão a receber tratamento médico para salvar vidas estão a lidar com enormes níveis de stress e incerteza. Não só estão a tentar navegar num ambiente clínico muitas vezes assustador e desconhecido, como também estão a tentar lidar com todos os medos e incertezas que rodeiam o seu diagnóstico e os rigores do tratamento médico e dos seus efeitos secundários. As pessoas nos ambientes em que trabalhamos estão mais vulneráveis e é por isso que, aqui na Full Circle, sempre sentimos que existe uma necessidade crítica de fornecer apoio profissional, atencioso e significativo para proporcionar um espaço terapêutico que ajude cada pessoa a encontrar a sua calma interior e resiliência para suportar o que a espera.  Para a Full Circle, apoiar a pessoa como um todo no ambiente clínico intensivo é a razão central da existência da nossa instituição de caridade.

O Serviço Nacional de Saúde (no Reino Unido) é um ambiente desafiante e altamente complexo e foram necessários passos lentos e meticulosos para que cada um dos nossos projectos e cada uma das nossas terapias fossem introduzidos e depois aceites.  Com isto em mente, quando me pediram para me encontrar com Melanie Glanville e alguns dos seus colegas de Reiki, foi notável para mim que a introdução tenha sido feita por uma enfermeira sénior de cancro e transplantes, boa amiga e praticante de Reiki, Laura O’Regan. Como enfermeira, ela veria em primeira mão a verdadeira necessidade. Eu tinha trabalhado com Laura na unidade de hematologia e transplantes do hospital durante mais de 10 anos e ela tinha visto a Full Circle desenvolver-se desde o seu início até apoiar mais de 7.000 crianças, adolescentes e adultos.  Tínhamos a mesma visão.

Tenho um grande respeito pelo Reiki e pela medicina energética em todos os seus formatos.  Tornámo-nos no projeto “Ligar o Reiki à Medicina” porque eu queria fazer o que estivesse ao meu alcance para ajudar a criar uma plataforma para o Reiki e para o ajudar a ser introduzido com segurança no nosso mundo clínico intensivo.  Começámos por estruturar uma estrutura que incluísse um programa extensivo de mentoria e indução, que depois envolveria uma fase alargada de acompanhamento para que os praticantes de Reiki habilitados pudessem observar as complexidades da prestação de um serviço neste ambiente por um dos nossos clínicos principais.

É com grande entusiasmo que te digo que temos agora quatro praticantes de Reiki muito especiais – Melanie Glanville, Raquel Martin, Anne-Marie Carratu e Teresa Durant – que passaram pelo nosso processo aprofundado de indução e mentoria com um cuidado, profissionalismo e compaixão exemplares.  Seguimos de perto os nossos diferentes grupos de doentes, o que fazemos através da avaliação dos serviços, e através deste processo temos a capacidade de começar a ver temas a emergir. É este processo sistemático que nos permite ser direccionados para onde podemos concentrar possíveis projectos de investigação futuros.”

Fonte: UK Reiki Federation https://www.reikifed.co.uk/reiki-in-hospitals/

No site do St Georges University Hospital podemos ler:

Porque é que a Full Circle existe

Para fornecer apoio compassivo, baseado em provas, a bebés, crianças e adultos hospitalizados muito doentes e às suas famílias no St George’s Hospital.

Numa altura em que se sente que muito foi retirado, a investigação mostra que as terapias de apoio baseadas em provas podem ajudar a fornecer o contrapeso positivo que ajuda uma pessoa a lidar com alguns dos desafios de uma doença que ameaça a vida.

Como é que fazemos isto?

Proporcionando os benefícios de reabilitação baseados na evidência das terapias de apoio àqueles que mais precisam delas no hospital

Demonstrando o valor do nosso trabalho no SNS e no sector dos cuidados de saúde através da avaliação e da investigação

Através da educação – partilhando os nossos conhecimentos, filosofia e compaixão para aumentar o impacto do modelo da Full Circle no St George’s e a nível nacional para o benefício dos doentes actuais e futuros

Como instituição de caridade independente, a Full Circle fornece atualmente mais de 2.000 tratamentos gratuitos por ano para apoiar doentes muito doentes e as suas famílias. Os nossos programas multi-premiados no St George’s Hospital apoiam doentes em medicina pediátrica, hematologia, transplante de medula óssea, oncologia, reabilitação neurológica e cuidados intensivos.

As terapias “hands-on” da Full Circle são:

– Terapia de Massagem Clínica

– Reflexologia

– Reiki

Fonte: https://fullcirclefund.org.uk/for-patients-and-carers/mind-body-therapy/

Então, o que é para a Full Circle o Reiki?

O Reiki (ray-key) é um sistema natural que ajuda a melhorar a sensação de bem-estar e um sentimento positivo de renovação espiritual e física. Esta prática foi fundada pelo Dr. Mikao Usui no início do século XX no Japão e evoluiu como resultado da sua pesquisa, experiência e dedicação.

O Reiki está aberto a pessoas com qualquer sistema de crenças e os seus benefícios podem incluir o relaxamento profundo e a promoção de uma sensação de calma e bem-estar. O método de receber um tratamento de Reiki de um praticante é simples. O recetor permanece vestido e deita-se confortavelmente numa cama, sofá ou senta-se numa cadeira. O praticante coloca suavemente as suas mãos, de forma não intrusiva, sobre ou perto do corpo. Não há massagem ou manipulação. O Reiki pode ser usado na pessoa como um todo, ou em partes específicas do corpo.

Há um conjunto significativo de evidências que sugerem os efeitos positivos do Reiki no alívio do stress, ansiedade, privação de sono, dor crónica e aguda. Ao ajudar a promover o relaxamento e a melhorar o sono, o Reiki pode ajudar a apoiar o sistema imunitário.

O Reiki pode ser usado juntamente com outros tratamentos convencionais ou complementares e ajuda a dar apoio durante a recuperação. Este é muitas vezes um dos seus benefícios mais bem-vindos em ambientes médicos.

Literatura:  Baldwin, A (2020) Reiki in Clinical Practice: A Science-based Guide. Handspring Publishing.. Para mais detalhes e referências: https://www.reikiwithmedicine.org/research/.

Fonte: Full Circle Fund

Subjetivamente, para uns Reiki será um desperdício de dinheiro, para outros, será uma benece para o seu bem-estar.

Conclusão

Como breve conclusão, este tipo de artigos é muito orientador para todos aqueles que praticam Reiki. Chamam a atenção à necessidade de rigor, de bom enquadramento da prática e também de uma condução correta de respostas.

Reiki não é magia, mas é muito especial para quem pratica e para muitos que recebem.

Costumo dizer que somos o “rosto do Reiki”, isto quer dizer que as nossas ações na prática de Reiki têm um impacte sobre a percepção que a sociedade tem sobre o que fazemos. Cumprir os cinco princípios e seguir as indicações da ética que a Associação Portuguesa de Reiki promove, são pilares essenciais para um bom esclarecimento e reconhecimento.

Muito obrigado a todos os que chamaram a atenção sobre este artigo e um especial obrigado a Francis Vendrell, Dori-Michelle Beeler e Jojan Jonker, pelo apoio técnico, assim como revisão de Cristina Belém e Isabel Couto.

João Magalhães,
Presidente, Associação Portuguesa de Reiki.
Este artigo foi escrito como parte do trabalho voluntário que todos fazemos na associação em prol do esclarecimento e apoio à prática.
Para questões sobre este esclarecimento podem enviar um email para joaomagalhaes@montekurama.org

Notas a termos usados

Em vários momentos deste artigo de esclarecimento surge a palavra cura, como tradução direta do inglês healing. Em Portugal não usamos esse termo pois pode levar a alguma confusão. O termo correto será processo terapêutico, como ação da terapia complementar e integrativa Reiki, que é também conhecida como uma terapia não convencional.

Este artigo foi também publicado no site da Associação Portuguesa de Reiki.

Designer, Mestre, Terapeuta de Reiki, Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e fundador da Ser - Cooperativa de Solidariedade Social. Autor dos livros «Reiki Guia para uma Vida Feliz», «O Grande Livro do Reiki», «Reiki Usui», entre muitos outros. Fundador da revista "Budismo, uma resposta ao sofrimento". Acima de tudo quero partilhar contigo o porquê de Reiki ser a «Arte Secreta de Convidar a Felicidade».

2 comentários

  • José Baião

    Sem dúvida alguma, foi feito o esclarecimento ao artigo, com informações desvirtuitalizados, enganatórios por lapso ou desconhecimento no público a 26 de Julho de 2024, o Dr David Marçal, “Bioquímico e Divulgador de Ciência” …
    Grato pelo excelente esclarecimento Mestre João Magalhães e todo o staff…

  • Joana Soares

    O Artigo publicado por o Dr David Marçal, é uma desilusão académica, péssima pesquisa, fontes desenquadradas, falta de rigor, literacia profundamente pobre… Não lhe acrescentou nada, só limitação de pensamento e curiosidade, para um académico. Temos que ir para o mundo, para falarmos do mundo
    Grata pelo teu esclarecimento João 🙏

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