
Se fizeres uso da tua espiritualidade no trabalho não deves receber ordenado (!?)
Existe o conceito de que o que é um trabalho espiritual não deve ser pago, mas será que deixamos a espiritualidade à porta do trabalho?
Trabalho há mais de 30 anos como designer, fui dos primeiros designers multimedia no país, também dos primeiros em usabilidade, mas antes fiz outras coisas, trabalhei em obras, distribuí publicidade, enfim, fiz o que era necessário para cumprir as condições que necessitava.
Em todos os trabalhos regia-me pela minha ética intrínseca e pelos valores da profissão. Sendo a espiritualidade uma busca pelo sentido da vida, uma vivência da vida profunda, numa busca pela plenitude e sentido de coerência, integração e unicidade. Essa procura vai na direção de valores que são universais e estão também, implícita e explicitamente, marcados na nossa própria ética e na ética profissional. Estes valores (morais) não são apenas pensados, precisam ser sentidos para serem inteiros e genuínos… então temos uma atitude espiritual presente.
Em qualquer trabalho que fiz e faço, sentia sempre uma ligação a um propósito – porque faço? para que? como? São aquelas questões filosóficas e espirituais que nos chegam algures no tempo da vida, se bem que como designer é algo que tenho que fazer constantemente. Então estou numa constante vivência espiritual.
Mais ainda… quando preciso fazer um projeto, tenho uma visualização (não racional) do seu resultado antes de o pensar… um pouco como quando meditamos e nos surge o nosso propósito de vida. Mais uma vez, a vivência espiritual.
Então, compreendendo que aplico tudo o que sou em tudo o que faço e isso inclui o chamado “trabalho material”, não devia receber dinheiro por isso(!?).
Que reflexão estranha que inquieta…
Tudo o fazemos devemos fazê-lo por inteiro e sermos genuínos. Tirar parte do que somos em cada parte da nossa vida, é meio caminho andado para sentimentos que não são os melhores nem para nós, nem para os outros, assim como não estamos presentes na totalidade da nossa vida. Será útil viver a vida em partes?
Ser espiritual não é preciso mostrar que reza no trabalho, ou que se veste diferente. Ser espiritual é estar presente e ser coerente.


2 comentários
Betty Rodriguez
Muito bom João. É isso mesmo. É ser ?
Adorei ☀️
bete
Obrigada, João, pelo artigo 🙂
Como diz um amigo meu, espiritualidade é a forma como se está na vida.
As pessoas que se dedicam profissionalmente às terapias têm de se sentir libertas do “dogma” de que não é correto receber dinheiro pelo seu trabalho.
Há pessoas que não querem pagar por um tratamento Reiki, que, em princípio, vai fazer-lhes bem, mas não se importam de desembolsar 100€ numa consulta médica, que dura apenas 5 minutos, na qual o médico mal olha para elas e lhes prescreve medicamentos cheios de efeitos colaterais. Esta é a verdade ainda para muitas pessoas.
Não sou contra a medicação e os tratamentos médicos, são necessários a maioria das vezes, mas sejamos razoáveis. Muitos terapeutas fazem o que os médicos não se interessam em fazer: ajudar a encontrar a causa, a raíz do problema. Mas ainda há quem não queira pagar ou veja mal o terapeuta cobrar pelo seu trabalho só porque tem o rótulo de “espiritual”.