2021 - Prática da Bondade,  A condição humana

Se só alguns são especiais, o que são os outros? Se todos somos especiais, o que somos?

Algumas características como a empatia, o olhar para dentro e a intuição podem levar-nos a sentir que estamos deslocados do habitual na sociedade. A uns traz a tristeza do isolamento a outros uma sensação de ser especial. Mas como levar um caminho equilibrado, sem dor para nós e para os outros?

Saber viver e estar, reconhecer que todos estamos por igual

Quando olhamos para as folhas de um plátano, reconhecemos que todas são iguais. Quando olhamos mais perto, percebemos que cada uma delas é distinta, apesar de semelhante.

A natureza traz-nos lições muito claras para a nossa vida – tudo tem um propósito e papel na vida, tudo é distinto apesar de semelhante, cada parte completa um todo.

Quando determinadas características nos fazem sentir mais atentos à realidade, a ver claramente aquilo que está no nosso exterior e também no interior, podemos sentir que remamos contra a maré, ou que os outros não nos compreendem. Por vezes isso faz-nos sentir tremendamente sozinhos, mas será que a vida pede essa solidão?

As palavras do Ven. Mestre Hsing Yun, no seu livro Ver Claramente, trazem-nos algumas indicações:

Os mais cultivados entre nós são aqueles que podem praticar mesmo no meio da multidão. Temos uma admiração especial por aqueles que praticam o Dharma no meio da agitação da vida. Ao longo da história, existem muitos exemplos para aprender. 

O poeta chinês Tao Yuanming escreveu: “Vive entre o povo, mas não ouças a agitação de cavalos e carruagens”. No seu sutra com o mesmo nome, é dito do leigo Vimalarkirti: “Embora seja um leigo, ele não está apegado aos três reinos. Embora casado, ele sempre cultiva a pureza”. 

O Mestre de Chan Ikkyu, um respeitado monge no seu tempo, foi outro bom exemplo. Uma vez, enquanto viajava com o seu discípulo, ele viu uma mulher na margem de um rio com grande correnteza, imaginando como ela atravessaria para o outro lado. O Mestre de Chan Ikkyu ofereceu-se para carregá-la às costas. Nessa época no Japão, o contato físico entre um monge e uma mulher era estritamente proibido. O seu discípulo, horrorizado com o fato do seu professor ter contato com uma mulher, ficou incomodado por um mês inteiro. Quando o Ikkyu descobriu o que estava a incomodar o aluno, disse: “Eu já me esqueci disso. Eu só carreguei a mulher, mas tu carrega-la na sua mente há um mês inteiro”. Quando vemos a ilusão do mundo fenomenal e não nos apegamos a nada, estamos a viver transcendentemente.

Ven. Mestre Hsing Yun

Ou seja, qualquer que seja o teu sentido de crescimento, não abandones o mundo, não te isoles, mas permanece nele para que o possas auxiliar e ao mesmo tempo continuar a aprender. Se abandonares o mundo poderás sentir que estás desconetado e quem sabe, sentires ser mais importante que todos os outros. Observa o Plátano e as suas folhas… haverá alguma que se considera melhor que a outra? Todas cumprem a sua função, apesar de serem diferentes e de estarem em posições diferentes.

Mas será que determinadas características que desenvolvem o nosso sentido espiritual apenas são “capacidades” de alguns?

O Mestre Usui dizia que “O Treino, de acordo com a lei natural deste mundo, desenvolve a espiritualidade humana”. Então a espiritualidade, como tudo na vida, requer treino e não é apenas algo que acontece por acontecer. O que precisa ser treinado?

A forma como pensamos, sentimos e agimos.

Estar presente no mundo, na vida quotidiana é o grande treino pelo qual crescemos. Afastamo-nos para recuperar forças e refletir, mas regressamos para validar, testar e praticar. Como dizia o Mestre Usui… Só por hoje. Um dia de cada vez, presente naquilo que se faz.

Todos somos especiais, cada um com as suas próprias condições.

Designer, Mestre, Terapeuta de Reiki, Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e fundador da Ser - Cooperativa de Solidariedade Social. Proprietário e Editor Geral da Revista Reiki & Yoga. Autor dos livros «Reiki Guia para uma Vida Feliz», «O Grande Livro do Reiki», «Reiki Usui», entre muitos outros. Fundador da revista "Budismo, uma resposta ao sofrimento". Acima de tudo quero partilhar contigo o porquê de Reiki ser a «Arte Secreta de Convidar a Felicidade».

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