Não fazer por bem mas fazer o que é correto – a bondade e as lições de um gato
Qualquer pessoa tem em si o grande desejo de fazer por bem e, culturalmente, somos ensinados a fazer o bem sem olhar a quem, o que é uma atitude de abnegação, humildade e bondade. Nem sempre este grande desejo de fazer o bem é correctamente aplicado e então entramos em conflito interior – quem sou eu que tem este querer fazer o bem e porque não o aceitam ou interpretam mal?
O querer fazer por bem e as lições da bondade
A minha mãe tem uma gata que foi abandonada pela mãe, mal nasceu. Desenvolveu atitudes anti-sociais e apenas tolera a sua “mãe adoptiva”, quanto às outras pessoas, só cheira um pouco da primeira vez e depois arranha ou faz uns barulhos um pouco estranhos, para avisar que a interacção não vai correr bem. Nos seus olhos há sempre um profundo descontentamento e o seu coração está fechado, pela falta de amor filial que teve. A vontade é de abraçá-la e dar-lhe muito amor até o seu coração se abrir… no entanto, o mais pequeno gesto vai dar como resultado umas arranhadelas bem profundas e uma gata bem furiosa. Curiosamente, nos humanos também encontramos semelhanças. Quantas pessoas não conhecerás que estão assim fechadas, em dor, em solidão e no entanto, quando há uma tentativa de sanação e aproximação, reagem mal?
Esta é uma boa reflexão para o querer fazer por bem, para a diferença entre a compaixão, o ser bondoso e o ser bonzinho. Será este o momento ideal para reflectirmos sobre a nossa “ganância” da bondade, o querer fazer tanto o bem, que por vezes queremos forçá-lo a quem não o pediu ou ainda não está capaz de o aceitar.
A ganância da bondade é um uso exacerbado da vontade de querer ajudar os outros, de querer fazer o bem. Nestas situações, não se avalia bem a necessidade do outro, o que realmente necessita e qual a forma de nós o podermos ajudar, sabendo perguntar.
Novamente, a nossa cultura interfere. É-nos incutido o saber fazer por bem, fazer o bem, mas sem que se saiba, o que origina por vezes atitudes desviantes e que mais afectam o coração, o sentimento, de quem tenta fazer algo de bom e falha redondamente. Se estivemos numa cultura genuína, não haveria qualquer problema em perguntar o que a pessoa precisa, o que podemos fazer por ela e até mesmo recusar ajudar, se não estiver ao nosso alcance.
Vale a pena reflectirmos sobre isto:
- Saber comunicar correctamente o que se precisa;
- Saber perguntar a quem precisa, o que precisa realmente e como;
- Saber recusar no caso de não ser possível;
- Saber fazer o bem e fazer por bem de forma consciente, activa e compassiva.
Um comentário
gemy
obrigada, muito iluminador este artigo; Feliz Ano de 2018