
Reiki e o amor incondicional
Desde que iniciei o meu percurso no Reiki que sempre ouvi falar de «amor incondicional». Reiki é amor incondicional, o que fazemos é amor incondicional. Como sempre, quis tentar perceber de onde vem o sentido de amor incondicional, no Reiki, as suas origens.
Sabemos que o Mestre Usui deixou as suas indicações sobre a prática através dos preceitos. A realização destes, levam à melhoria do corpo e da mente (Shin shin kaizen). Lendo o seu manual, o Usui Reiki Ryoho Hikkei, não encontrei referência a amor incondicional. O Mestre Hayashi indicava o Reiki Ryoho como «uma força, um poder, chamado Reiki que flui naturalmente do corpo humano. Não requer equipamentos, treino difícil e trabalha para curar a doença, a disposição, não só em nós mas também nos outros». Também no seu manual não encontrei uma referência ao amor incondicional.
Em Setembro de 1974, o presidente Toyokazu Kazuwa, publicou o Reiki Ryoho no Shiori, um manual para a terapia Reiki, a ser distribuído pelos associados da Usui Reiki Ryoho Gakkai. Na sua introdução ele dizia que o Reiki Usui «é um método de terapia espiritual para manter a mente e corpo saudáveis… A terapia Reiki funciona ao nível subconsciente, ajuda fortemente a melhorar a capacidade autocurativa que existe no teu corpo e tenta curar a doença ou prevenir de ficares doente. Porque a terapia Reiki melhora a capacidade de autocura, ao usar a energia espiritual que vem do teu próprio corpo, é seguro e qualquer pessoa pode fazê-lo. Uma vez que adquiras este método, irás ficar surpreso com os seus efeitos maravilhosos.»
Mesmo a Mestra Takata que era uma pessoa que demonstrava muito mais os seus sentimentos e perspectivas, talvez pela proximidade ocidental por viver no Havai, não indicava explicitamente o «amor incondicional» mas, mostrava uma profunda ligação com o espiritual, dando um cunho de espiritualidade e crença na prática. Por exemplo, a sua explicação sobre Reiki é que era algo como «uma força universal do Grande Espírito Divino», «uma energia cósmica para curar os enfermos», «um poder de Deus».
Realmente quase nada vemos, em toda a literatura japonesa sobre Reiki, o tema do amor incondicional, que em japonês se diz 無条件の愛 mujouken no ai. Isto tem muito a ver com a própria incapacidade dos japoneses demonstrarem os seus afectos. Quem já esteve no Japão ou viu documentários, pode lembrar-se de situações como não olharem nos olhos, não observarem quem os rodeia, de forma óbvia, nos transportes e mesmo as máscaras que têm no rosto são, muitas vezes, não para protecção física mas sim emocional. Como o conceito amor é muito amplo, existem três palavras para expressar amor – ai (愛) – amor materno ou altruísta, koi (恋) – amor romântico, saudade e ren’ai (恋愛) – combinação dos dois e é um termo mais moderno para o amor que se sente por outra pessoa.
Resumindo, não temos a certeza de o termo amor incondicional ter sido usado nos primeiros tempos do Reiki mas, nos princípios, temos claramente a bondade shinsetsu (深切). Esta bondade, encontra-se relacionada com a compaixão, jihi (慈悲). No Japão, há um provérbio muito famoso – 情けは人の為ならず nasake wa hito no tame narazu – O bem que fazes pelos outros é um bem que fazes a ti mesmo. Literalmente pode também querer dizer que a compaixão não é para o benefício de outros. É um apelo a que se faça mais pelos outros, pelo bem comum. A prática da meditação, no Reiki, seichin toitsu, leva-nos a alcançar o daijidaihi 大慈大悲 – uma grande bondade e compaixão. O mesmo se aplica aos praticantes de Karuna, que em japonês se chama hi 悲.
O que é o amor incondicional e porque o usamos no Reiki
Ser capaz de dar sem esperar receber em troca é uma virtude muito necessária na prática de Reiki. Esse é o significado do amor incondicional e não tem nada de simples a sua prática. O nosso chakra cardíaco é o motor do Reiki, isto tem um certo sentido porque sem um coração predisposto, que requer uma mente vazia, a energia dificilmente flui. Assim, podemos ver as nossas mãos como asas do nosso coração. Neste sentido, há uma lógica em dizer que Reiki é amor incondicional, que é uma prática que requer, envolve, amor incondicional.
A dificuldade aqui é que em tudo colocamos uma condição. Se fizer um tratamento a alguém, mesmo que diga que nada quero em troca, muito possivelmente quero um obrigado ou um sorriso. Há, portanto, sempre uma condição por detrás e ao conhecermos o que realmente queremos, ultrapassamos esse limite que nos leva à frustração e alcançamos a verdadeira incondicionalidade… é um longo caminho.
Por isso mesmo, não podemos carregar bandeiras ou bater no coração a dizer que tudo o que fazemos é por amor incondicional, quando tantas vezes existem condições ou julgamentos. É bem melhor dizer, «eu pratico Reiki seguindo os cinco princípios, o melhor que posso». Desta forma, não nos colocamos em pedestais e acabamos por realmente alcançar o amor incondicional, que também é muito necessário para nós mesmos.

