As torradas, a impermanência e o desapego
Eu gosto muito de comer pão, se bem que o pão não tem sido feito nas melhores condições para se comer. Mesmo o célebre pão do norte começa a perder a sua qualidade, assim como o alentejano. Salvam-se excepções, felizmente. Este gosto faz-me reflectir sobre várias coisas, principalmente o desapego. Hoje, ao comer o pequeno-almoço, reflecti sobre isso – o desapego e a lição que as torradas me trazem.
Gosto de certo tipo de pão para torradas e, a primeira vez que as experimentei num café perto do trabalho, eram excelentes, fiquei entusiasmado. Noutras vezes, eram também boas, noutras eram diferentes. A variação entre o tipo de pão, manteiga e torrado, fazia variar o apreço ou «desagrado» no paladar. A minha vontade de querer ter sempre a mesma experiência não poderia resultar em algo bom.
A situação fez-me acordar e perceber a impermanência e o desapego.
Tudo muda na vida, desde as mais pequenas coisas, a nós mesmos. Tudo é impermanente e nós sofremos numa ânsia de querer que tudo seja permanente. O querer acaba por nos fazer sofrer, o desejo pela permanência e a sua impossibilidade, faz-nos sofrer. Compreender isto fez-me perceber que, tudo muda, ou seja, tudo é impermanente no tempo e no espaço, que uma torrada terá sempre diferentes formas e eu reterei o seu sabor de diferentes maneiras.
Esta compreensão fez-me lembrar que não devia cultivar em mim a expectativa «a torrada será tão boa como a última?» mas sim aproveitar o momento presente, saborear a torrada, agradecer a oportunidade por ter comida.
Num outro passo, a situação fez-me compreender a necessidade de desapego… O pão que nem por isso me faz bem e desapego à necessidade de um sabor que me trará emoções e memórias agradáveis.
Observar o dia-a-dia, as mais pequenas coisas, faz crescer um bocadinho mais.
2 comentários
Maria Filomena Franco de Almeida Pessanha Isidoro
Todos os dias com sabores deliciosamente especiais,mesmo que a torrada esteja um pouco queimADA 😉 🙂
Geny Silva
grata por mais esta gota de sabedoria, dá muito sabor à vida da gente.