As lições do meu avô
O meu avô era um grande homem. Quando eu era pequeno, pensava que era um gigante, muito grande e quando eu cresci em tamanho, apesar de ser mais alto que ele, continuava a sentir o mesmo. O meu avô era uma pessoa muito sábia. Aprendeu as coisas num tempo onde não havia internet mas sim correio, onde muitos dos livros que precisava eram proibidos e tudo requeria muito sacrifício, secretismo e humildade. Eram tempos diferentes.
Naquele tempo não havia «os grandes mestres», não dava para saltar de curso em curso sem praticar à espera de uma solução milagrosa. Havia companheiros, havia quem se dedicava a fazer muito bem. Era um tempo onde a dedicação vinha de dentro, assim como a motivação. E com toda a sua experiência de vida, o meu avô ensinou-me. Algumas dessas lições quero partilhar contigo.
Quando tinha 16 anos partilhou comigo a filosofia Sufi, o Dhammapada e outras correntes. Ensinou-me o que ver e compreender que a Terra é um Ser Vivo, que a energia flui nela, assim como em nós. Fizemos muitas experiências que deixam grandes saudades. Vi coisas assustadoras e outras fantásticas. E em tudo, estavam lições.
As lições do meu avô
1 – Há sempre algo maior que tu
Podemos saber muito, praticar muito. Outros podem dizer que somos isto e aquilo em grandeza mas, manter em mente que há sempre algo maior que nós.
2 – Não há nada maior que Deus
Acima de todas as coisas, nelas e entre elas, está Deus, o Divino, ou o Universo. Nada acontece sem o seu saber, tudo tem uma razão.
3 – A humildade é uma força
Sabendo estes dois passos anteriores, reconhece o que sabes e o que te falta saber. Mantém-te humilde em todas as situações. Isso dará força. Se alguém te acusar, não é a arrogância que cai em ti mas sim a experiência que responderá.
4 – Nunca trabalhar as relações dos outros
Sobre o amor, as relações, nunca intervir. Não sabemos o que é melhor para outros. Muitas vezes nem para nós, quanto mais para os outros. É presunção assumir que tal caminho será melhor. Quem está nas relações deve assumir a sua responsabilidade e consciência. Os outros podem ajudar num processo de cura mas não tomar decisões por eles.
5 – Há sempre dois lados de uma moeda e o caminho do meio
Temos sempre dois lados. O Bem e o Mal. O Positivo e o Negativo. Mas há o caminho do meio, difícil de ser percorrido mas necessário. Conhecer os dois lados traz-nos sabedoria para o caminho do meio.
6 – Escolhe o teu objectivo de vida, escolhe o lado a que pertences
Compreendendo os dois lados, devemos escolher o nosso «lado». Qual é o teu objectivo de vida, o que vais dar à vida, pela vida que te dá?
7 – Sobre a vida e a morte, apenas Deus sabe
É presunção achar que se sabe tudo sobre a vida e a morte. Quando alguém vive ou quando alguém morre. Essa presunção, traz-nos ruína mais cedo ou mais tarde pois acaba por ser uma manipulação sobre os outros. Novamente, a humildade.
8 – Escolhe bem o carro que tens
Podes comprar um carro fraquinho mas se fizeres subidas inclinadas, gastas muito mais combustível e esforças mais o carro. Por vezes a sabedoria vem por outras palavras.
9 – Tudo tem o seu tempo
O meu avô não me ensinou tudo de uma só vez. Dava-me uma migalha e eu tinha que trabalhar. Depois, podia aprender mais. Tudo tem o seu tempo, não aquele que queremos mas o que precisamos.
Então, ser Mestre é assim. É não ter títulos ou se os tem não precisar de os usar, é ser e viver. É viver a vida como todos vivemos mas com sabedoria e inteligência. É partilhar e dar. O meu avô ensinou muitas mais coisas, durante o mesmo tempo que o Mestre Usui ensinou. Um dia partilho um pouco mais.
3 comentários
Isabe Rodrigues
Grata por partilhares!
Sabrina Amado
O meu avó também foi um grande homem, também pelo seu tamanho físico! mas o seu coração ainda era maior! este artigo diz me muito!! Grata pela partilha, Namastê
Antônia Maura
Que linda partilha João.