Inspirador,  Meditação

Mudar o sofrimento em compaixão para desenvolver a felicidade

dalai-lamaMudar o sofrimento em compaixão é como tornar a terra queimada em terra fértil.

Após o grande tsunami no Japão, o Dalai Lama foi visitar a aldeia piscatória de Ishinomaki. Tudo era destruição e sofrimento. A população saudou o Dalai Lama e muitos choraram. O repórter Pico Iyer, testemunho a força que Dalai Lama quis passar ao motivá-los a transformar o seu sofrimento em compaixão “Por favor, mude o coração, seja corajoso”, disse ele, enquanto abraçava alguns e abençoava outros. “Por favor, ajude todos os outros e trabalhe muito; essa é a melhor oferta que pode fazer aos mortos”. Pelo seu relato Iyer diz que quando o Dalai Lama se virou, afastou uma lágrima dos seus olhos.

Sofrer é carregar um peso, um fardo, uma dor que nos é pesada e nos verga. É como se o céu fosse apenas cheio de nuvens negras e o nosso interior estivesse pesado – tudo está pesado. Esta tensão e sobrecarga em nós impede-nos de viver plenamente, de chegar à nossa essência, de fluir com a vida. Esta grande lição que o Dalai Lama partilhou pode parecer-nos estranha mas é de grande eficácia. Se estamos a sofrer, estamos demasiado atentos aos pesos que carregamos e a dor aumenta. Quando nos desviamos em direção ao outro que está a sofrer, então deixamos de sentir esse peso. Isto acontece, principalmente, porque o nosso coração se abriu, a sua energia de amor incondicional despertou e tal, torna-nos realizados na forma mais bela de todas – a interior. Mudar o sofrimento em compaixão é como desimpedir um ribeiro obstruído. Agora já pode fluir até ao grande oceano, levando vida às terras envolventes e desenvolvendo a vida em si mesmo, nos peixes e algas que o habitam. Estar parado, no ciclo do sofrimento torna a nossa energia estagnada. Mover, circular o coração, desenvolver a bondade e a compaixão, faz a energia mover e expandir-se. Assim encontramos a felicidade.

“Devíamos sentir que é maravilhoso estar neste mundo. Que fantástico é ver vermelho e amarelo, azul e verde, roxo e preto! Todas essas cores foram dadas. Sentimos calor e frio, experimentamos doce e amargo. Temos essas sensações, merecemo-las. Elas são boas. Então o primeiro passo para perceber a básica bondade é apreciar o que temos. Mas então devemos ir mais fundo e mais precisamente em direção ao que somos, onde somos, quem somos, quando somos e como somos como seres humanos, para que possamos tomar posse dessa bondade básica. Não é realmente uma posse, mas, de qualquer maneira, nós a merecemos.

A bondade básica está muito intimamente conectada com a ideia de bodhichitta na tradição Budista. Bodhi significa “desperto” ou “acordado” e chitta significa “coração”, então bodhichitta é “coração desperto”. Tal coração desperto vem de ser capaz de ver o estado da sua mente. Pode parecer um grande feito, mas é necessário. Você devia investigar-se a si mesmo e perguntar quantas vezes tentou conectar-se com o seu coração, inteiramente e verdadeiramente. Quantas vezes deu as costas, porque tinha medo de poder descobrir algo terrível sobre si mesmo? Quantas vezes teve vontade e disposição de olhar para o próprio rosto no espelho, sem ficar constrangido? Quantas vezes tentou proteger-se lendo um jornal, assistindo televisão ou simplesmente indo fazer outra coisa. Essa é a pergunta de sessenta e quatro mil dólares: Quanto você se conectou consigo mesmo durante toda sua vida?

A prática de sentar em meditação, como discutimos no capítulo anterior, é o meio para redescobrir a bondade básica, e para além disso, é o meio para desperto este genuíno coração dentro de você. Quando você se senta na postura da meditação, você é exatamente aquele homem ou mulher nus que falamos anteriormente, sentado entre o céu e a Terra. Quando você se dispersa, você está a tentar esconder o seu coração, tentando protegê-lo saindo da sua presença. Mas quando você está sentado ereto mas relaxado na postura da meditação, o seu coração está nu. Seu ser inteiro está exposto – para você mesmo, antes de tudo, e para os outros também. Então através da prática de sentar parado e seguir a sua respiração conforme ela acontece e se dissolve você está a conectar-se com o seu coração. Simplesmente deixando ser, como você é, você desenvolve simpatia genuína por você mesmo.”

~ Chögyam Trungpa Rinpoche, em “The Collected Works of Chögyam Trungpa: Shambhala: The Sacred Path of the Warrior – Vol 8″

Quanto te encontrares em sofrimento, pára. Medita e encontra-te, escuta o teu coração. Quando estiveres centrado em ti mesmo, desloca-te, dirige-te ao teu próximo e auxilia-o no seu sofrimento, desenvolve em ti a bondade e a compaixão. Trabalha, pois todos precisamos de construção, pára e medita, pois todos precisamos de encontro e reconexão.

 

Designer, Mestre, Terapeuta de Reiki, Presidente da Associação Portuguesa de Reiki e fundador da Ser - Cooperativa de Solidariedade Social. Autor dos livros «Reiki Guia para uma Vida Feliz», «O Grande Livro do Reiki», «Reiki Usui», entre muitos outros. Fundador da revista "Budismo, uma resposta ao sofrimento". Acima de tudo quero partilhar contigo o porquê de Reiki ser a «Arte Secreta de Convidar a Felicidade».

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