O que é o bem e o mal no caminho do meio
O bem e o mal parecem dois opostos claros e distintos, profundamente marcados. Na tradição judaico-cristã, que nos preenche socialmente, mesmo de forma inconsciente, os valores de bem e de mal têm um peso que por vezes nos faz vergar ou ter medo. Será que temos mesmo que viver assim?
O bem e o mal são dois estados, duas percepções que temos. Passam pelo julgamento desenvolvido ao longo de toda a nossa vida, pesado por valores e crenças, limitadoras ou não. Em muitos casos deparamo-nos com situações onde não encontramos a fronteira clara – o bem que farei será o mal para outros. O mal que farei será o bem para outros. Alguns exemplos:
- Encontramos cinco cêntimos no chão e deixamos lá para que outra pessoa os apanhe. Chegamos ao supermercado e faltam-nos cinco cêntimos.
- Um amigo ajuda-nos a arranjar trabalho.
- Compramos o supérfluo.
Nestes curtos exemplos, encontramos algumas situações que serão o bem de uns e o mal de outros. Mas, podemos perceber que este mal, não é o mesmo que aquele realizado por nós ou por alguém, com ódio ou raiva. Então, mal e bem têm várias formas e são interpretados e vividos de maneiras diferentes por cada pessoa.
Como podemos encontrar o caminho do meio entre o bem e o mal?
Vamos reflectir na seguinte frase de buda:
Não há luta entre o bem e o mal mas sim entre a sabedoria e a ignorância.
Se passarmos a olhar para as várias situações de bem e mal com a perspectiva de “será um acto sábio ou ignorante”, encontraremos uma maior paz interior e nessa paz, a resposta a tantas questões e o alívio de tantos pesos.
E o puro mal, o que será?
Há situações que nos transcendem o entendimento. Porque existe o puro mal, porque há fome, porque há guerra. Estas são as criações da ignorância. Continuando o nosso olhar no oriente, encontramos no Dhammapada, um conjunto de reflexões ditas por Buda, duas estrofes elucidativas sobre o bem, o mal e o nosso comportamento.
9. Papavagga – O Mal
121. Não subestime o mal pensando:
“Ele não me irá atingir”.
Pois tal como gota a gota
se enche um pote,
também o tolo se enche do mal
pouco a pouco acumulado.
122. Não subestime o bem pensando:
“Ele não me irá beneficiar”.
Pois tal como gota a gota
se enche um pote,
também o sábio se enche do bem
pouco a pouco acumulado.
Estas duas estrofes alertam-nos para a atenção plena que devemos desenvolver. O subestimar algo pode levar-nos a um caminho de ignorância, o acumular com paciência uma virtude, pode levar-nos a um caminho de sabedoria. Experimentem na próxima situação que se sentirem injustiçados fazer o seguinte exercício:
- Gerei algum acto movido por ignorância?
- Se observar o que me fizerem e pensar que foi apenas por ignorância, sinto menos peso?
- Sabendo que foi um acto por ignorância, consigo perdoar mais facilmente?
Porque entender é preciso
“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha,
como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco. Não demais:
mas pelo menos entender
que não entendo”
~ Clarice Lispector, em “A Descoberta do Mundo” (1967*1973)
Também na questão de bem e de mal devemos praticar desapego. As nossas acções, essas sim interessam, o nosso crescimento é importante pois fará reflexo para os outros.

2 comentários
cidalia abreu
E a propósito do bem, do mal e do pecado, recordo sempre as palavras de um freira da Escola Primária que frequentava, quando lhe dizia com preocupação “não sei o que é pecado para dizer na confissão” e ela respondeu-me “minha filha só é pecado aquilo que fizeres com intenção de pecar”, como foram tranquilizantes estas palavras para a menina que era e que me acompanharam toda a vida.
Obrigada João por mais este artigo tão tranquilizador como esclarecedor e pelo texto lindo da Clarisse Lispector.
(tenho pena de não conseguir abrir a newsletter d o Tao do Reiki)
bertila Ribeiro
João, escreve um livro com toda esta informação… os reikianos iriam agradecer muito…e se calhar, irias ajudar muita gente para o despertar da consciencia… porque há muita gente que não tem acesso às novas tecnologias.
Só por hoje, Sou Grata…